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Notas soltas: futebol italiano

  Muito se pode dizer sobre a atual situação da Serie A, uma liga tranquila para alguns e uma tortura medieval para outros. Verdade se diga, não é uma questão de sorte/azar. Uns jogam bem e entraram rápido das novas rotinas táticas, outros nem tanto (os pupilos de Allegri podem rever-se nesta segunda alínea). Uma liga com destaques claros até agora, alguns deles referidos nas linhas abaixo.

Diamanti, o fora de série

Máquina do tempo, leve-nos ao dia 24 de junho deste atual ano. Nesse dia jogou-se o Itália - Inglaterra, jogo decisivo para ambas as seleções, não se jogasse então o acesso a uma meia-final. Os transalpinos dominaram taticamente, tapando o espaço aos alas ingleses e, mais importante, pressionando o portador da bola. Manteve-se o empate ainda assim. Por um lado foi bom já que se o jogo acabasse aos 90 ou 120 minutos o mundo não seria capaz de ver a grande penalidade de Andrea Pirlo. (e arranjo sempre uma linha para falar, por incrível que pareça) Também houve certamente quem tivesse fechado os olhos, diga-se.

  Então uma Itália dominadora, mas uns ingleses persistentes e rígidos. Até que se estreou um "novato", um jogador de 29 que fazia a sua 4ª internacionalização pela seleção italiana. Diamanti, obviamente. Segunda em jogos oficiais, convém também referir a valentia de Prandelli ao colocar jogador com tamanha inexperiência a representar o seu país. Trouxe, surpreendentemente, algo diferente à sua formação: um ritmo frenético, digno de Premier League. Tem que agradecer ao West Ham ele. Rompeu completamente o rigor de Prandelli, mandando uma bola ao poste e baralhando os olhos britânicos, Hodgon inclusive (este muito criticado depois da derrota, sobretudo pela postura pouco atrevida duma seleção tipicamente... ofensiva). Não decidiu, mas esteve perto disso. A arma secreta de Prandelli, disse a imprensa nos dias seguintes.

  Quem olha para o estilo deste experiente jogador chega à conclusão que é alguém que não faz valer um bilhete num jogo disputado num San Siro, San Paolo, Juventus Stadium ou Olímpico (se bem que fez uma das melhores exibições da sua carreira frente ao AC Milan, mas no Renato Dall'Ara). É um elemento que faz a diferença com liberdade tática que lhe é confiada numa equipa primodivisionária de segunda linha. Nesse panorama Diamanti é um fora de série, um tomba-gigantes. Prandelli meteu-lhe o olho e nem tão cedo irá desviar. Já sem Di Vaio, o Bologna conta com este génio de Prato para (ajudar a) decidir. É, está claro, a grande referência e capitão deste clube.

Jovetic: à procura de um companheiro

  Stevan Jovetic deve estar confuso. O jovem montenegrino atuou a titular em todos os jogos disputados pela equipa viola na Serie A até ao momento. Foram 8, para ser mais claro. O problema é outro já que este é titular indiscutível. Tem 22 anos, grande margem de progressão e é constantemente apontado nos momentos estratégicos a grandes clubes europeus (a Juventus foi o destino mais falado em agosto) por alguma razão. Quem seguiu a Fiorentina nesta época sabe do que falo, ou talvez faça uma ligeira ideia. Há equipas que têm de menos, esta tem demais. 5 avançados no plantel principal num sistema de 3-5-2. Jovetic colou-se ao relvado, quem é o preferido de Montella para o acompanhar? A experiência de Toni ou a irreverência de Ljajic?

  O italiano, ex-avançado da Roma, parece estar confuso. Prefiro pensar que quererá pensar que a sua filosofia será a de "cada caso é um caso", mas é difícil avaliar o cenário. Há 5 avançados de grande qualidade, 4 deles sem a titularidade garantida. 

  O futebol italiano procura sempre um rigor tático superior às restantes ligas europeias. Não por competição, mas sim por tradição. Está-lhes nos genes. Claro que é preciso irreverência, criatividade... eis Ljajic. Parece ser a opção mais cotada por Vincenzo Montella, titular em 50% dos jogos da equipa de Florença. Tomara, têm de fazer valer os quase 7 milhões + objetivos pagos ao Partizan, em 2010. É na frente onde é preciso maior libertação e mobilidade. Com jogadores como Matías Fernandéz torna-se mais fácil, mas é interessante que apenas tem 2 crachás de titular no campeonato... Montella continua a apostar num sistema semelhante ao da Juventus, Parma, Bologna e Nápoles. Neste caso específico os alas são jogadores versáteis, sendo que Pasqual está mais talhado para fazer todo o corredor (lado esquerdo, normalmente quem mais serve Jovetic por fonte do corredor).

  Excluindo Ljajic já descrito, há outras três opções válidas. Um italiano numa fase descendente da sua carreira, um marroquino que teoricamente estará no seu auge e um jovem suíço com vontade e capacidade para explodir. Até ao momento vai "vencendo" Luca Toni, que está talhado como a 3ª opção neste momento se virmos pelos minutos totais no campeonato. El Hamdaoui segue-se e há o suiço Seferovic como o ponta-de-lança com menos minutos no plantel principal. Compreende-se e pode ser que a tendência seja outra nos anos seguintes. Um leque bastante extenso e diversificado que apela à inteligência de Montella, vendo a forma como monta os jogos. Interessante será ver como irá continuar a apoiar Jovetic na frente ataque, a principal referência neste momento. 3-6-1 com Matías a 10, meio-campo losango e dois médios alas? Não seria mal pensado, caro Montella. Mas tudo depende das suas intenções, claro está.

  Yepes, dinossauro italiano

  A idade parece não afetar um dos centrais mais disciplinados da história do futebol colombiano. Mario Yepes, patrão do setor mais recuado do AC Milan, abre destaque aqui pelo simples de facto de "imitar" outros nomes italianos como Nesta, Cannavaro, Maldini ou Materazzi, porém sem tanto sucesso. Dado como a 1ª opção de reserva desde que chegou a Milão a sua experiência é sempre bem-vinda e agora, mais do que nunca, a sua veteranice é bem aventurada por Allegri. De Sciglio ou Acerbi são jogadores visados a seguir as suas teórias sábias. 

  Ainda assim titular na Colômbia de Pekérman, o antigo central do Chievo continua a ser extremamente importante fora de campo.

  A formiga, a segunda opção e o sangue novo no banco

  Giovinco faz de Del Piero (ou pelo menos assim o parece). O "novo" jogador da Juventus vem mostrado um nível exibicional de acordo com as expectativas, revelando-se uma dor de cabeça. O mais impressionante é o facto de Carrera/Conte continuar a apostar em Quagliarella...

  Enquanto isso, convém falar de algo bastante particular: Borriello. Antigo jogador da Juventus, Milan e Roma tem sido uma peça importante na equipa que neste momento não tem treinador, depois da saída de Luigi di Canio. A gota de água foi, sem dúvidas, a derrota face à Roma. Marco voltou a um clube onde já foi feliz ou, pelo menos, àquele que o deu mais tempo de antena. Na época 2007/2008 alinhou em 35 dos 38 dos rivais da Sampdoria na Serie A, marcando uns razoáveis 19 golos. A partir daí fixou-se no Milan, rendendo apenas na segunda época. Não se mostrando um fora de série, Borriello foi tentando e... conseguindo, mas sem brilhar incondicionalmente. Cumpria, não fazia a diferença. Um jogador talhado para aquecer o banco de suplentes ou ficar esquecido no campo, em segundo plano?

  O Inter aposta no futuro com a direção a exemplificar, mantendo Stramaccioni no leme nerazzurri. Os azuis de Milão apostaram forte na nova época, contratando jogadores como Handanovic, Álvaro Pereira e Palacio e Cassano na frente. Basicamente há mais e melhores soluções em todos os sectores, com um lote de "incompreendidos" no plantel. Rebeldes, irreverentes e futuros poetas vestido azul e preto, mais vale dizer. Neste momento, porém, prevalece a veteranice de alguns jogadores que simplesmente não despegam. Velhos são os trapos, devem dizer eles.

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