Era considerável a expectativa sobre a prestação da Rússia no arranque do Mundial 2018, em solo caseiro. A notória falta de identidade, uma percentagem vitoriosa de apenas 25% com Stanislav Cherchesov e fases finais de grandes competições tipicamente fracas colocava muitos pontos de interrogação sobre a anfitriã que, pelo menos durante os próximos dias, acaba por apaziguar a crítica. De notar que a Arábia Saudita pouco se opôs, parecendo até contrariados em campo, mas os momentos de brilhantismo russo foram absolutamente fundamentais para levar uma expectativa alta para os próximos dias de Mundial.
Como é típico no arranque de qualquer competição de renome, os nervos e o respeito mútuo fazem com que os encontros inaugurais acabem por ser atípicos no ponto de vista do entusiasmo e dos grandes momentos, com equipas fechadas que procuram, sobretudo, estudar-se e prevenir erros fatais. E embora pudesse ser o caso na tarde de hoje, a (pouca) resistência que a Arábia Saudita ofereceu permitiu que a partida tivesse apenas um rumo possível. Os momentos de mestria e exibições absolutamente fantásticas de Denis Cheryshev e Aleksandr Golovin trataram de colocar o resultado final com números tão expressivos.
Num dia absolutamente perfeito para as cores russas naquele que foi um início fantástico para o FIFA World Cup 2018, a Crónica Futebolística descreve agora o melhor e o pior do 1º dia de competição.
+ ALEKSANDR GOLOVIN Já cotado por formações de renome de futebol europeu como a Juventus, o motor da seleção russa não fez nada para abrandar o interesse. Carimbando uma exibição imensa, o médio do CSKA jogou numa cidade que tão bem conhece e tem agora nas mãos a batuta que teoricamente era de Alan Dzagoev, antes da infeliz lesão do seu compatriota e colega de equipa. Golovin foi o principal obreiro da goleada, com duas assistências em seu nome e um estonteante golo de livre que acabou por ser o último lance da partida, já para além dos 3 minutos de compensação. Por vezes lento a soltar a bola ou a analisar a linha de passe mais eficaz, a quase perfeita de Golovin em todos os momentos do jogo - embora defensivamente o trabalho tivesse sido pouco extenuante, dando maior liberdade ofensiva - faz dele, até ao momento, a precoce figura do Mundial.

- FEDOR SMOLOV O maior goleador do lote russo acabou por passar despercebido durante a partida. Com múltiplas temporadas a marcar mais de 15 golos pelo Krasnodar, o veloz avançado acabou por passar completamente ao lado da partida. Pouco lúcido e distante do que se passava em campo, o ponta-de-lança acabou por ser substituído sem qualquer remate efetuado em 70 minutos, tendo a Rússia procurado inspiração nos criativos Golovin e Cheryshev. Não constituindo uma ameaça direta às redes da Arábia Saudita, Smolov acabou por ficar muito aquém do esperado naquele que seria, teoricamente, o jogo mais acessível para a formação anfitriã no grupo. Tendo marcado pouco depois de entrar na partida para o lugar de Smolov, o compatriota Artem Dzyuba - menos móvel, mas mais forte e clínico na área - acabou por marcar e a titularidade do número 1 do ataque russo fica, agora, comprometida.
- JUAN ANTONIO PIZZI O técnico natural da Argentina, e curiosamente antigo internacional espanhol, acabou por comandar uma equipa sem ideias, sem ritmo e, muito fracamente, sem talento para pertencer a uma grande competição, tendo em conta o que se viu na tarde de hoje em Moscovo. Pese embora o desafio fosse exigente, a formação saudita começou e terminou a partida da mesma forma atípica, tímida e insonsa. Não é uma questão de jogar com as armas disponíveis, porque a verdade é que a Arábia Saudita não mostrou ter armas suficientemente eficazes, fosse em que momento do jogo fosse. O único fator positivo da equipa asiática durante a partida foi a superioridade na posse de bola (61%) que, mesmo assim, acabou por ser inocente e não causar qualquer perigo às redes de Akinfeev, que não teve de parar um remate à sua baliza durante a partida. Muito trabalho terá a formação de Juan Antonio Pizzi para levar para casa algo que não seja, em bom português, um saco cheio.
Luís Barreira,
Crónica Futebolística
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