Porquê a insistência do futebol português e de larga maioria dos seus seguidores - em todos os meios de comunicação que o envolvem, desde a imprensa física e digital à mais banal e casual conversa de tasca - em mediatizar quem mais fala e, muitas vezes, menos faz? Tal é esta obsessão com o protagonismo fácil que, infelizmente, se regista um claro défice de páginas de jornais e discussões de café sobre aqueles que verdadeiramente merecem ser referenciados por bons motivos. Por outras palavras, e de forma muito mais direta:
➤ Porquê a clara e incompreensível falta de destaque dada a Jorge Simão até à sua oficialização como novo treinador do Sporting Clube de Braga?
O agora técnico do Sporting de Braga não procura protagonismo fácil por ter uma personalidade extravagante ou por declarações polémicas. Antes pelo contrário, o antigo técnico do Grupo Desportivo de Chaves limita-se a fazer - e muito bem, é preciso referir - o seu trabalho. Infelizmente, em Portugal, isso parece não ser o suficiente para despertar o interesse sobre uma determinada figura. Não que seja propriamente uma surpresa, num país onde se debatem as mesmas atrocidades há anos sem fim. De facto, falam-se de mais dos assuntos que se devem enterrar e, devido a essa mesma monopolização de tópicos, quem verdadeiramente merece não tem sequer, por vezes, uma menção honrosa.
Antes de mais, afirmar que esta é uma generalização e, felizmente, não corresponde a um todo. Existem meios de comunicação que de forma justa e contrária aos assuntos mais mediáticos do momento continuam a promover o bom futebol e os protagonistas que merecem realmente as palavras de apreço. O problema é que, muitas vezes, essa minoria padece perante os temas habituais e há muito monótonos que cobrem a atualidade do nosso futebol. Portanto coloca-se a questão: basta ser competente para ser reconhecido no futebol português?
➔ Em 2014/2015 venceu 14 jogos em 23 partidas no Campeonato Nacional de Séniores pelo Mafra e deixou a formação verde e amarela em zona de playoff na fase de subida, onde António Pereira iria depois vencer essa mesma zona de subida e catapultar a equipa do distrito de Lisboa para a Segunda Liga;

Durante esta fantástica época que o viu não só ser a peça chave para a subida de divisão do Mafra, mas também um dos pilares para o acesso europeu do Belenenses, Jorge Simão não levantou ondas: limitando-se a fazer o seu trabalho e com um travo de excelência, tal foi o seu registo em 2014/2015, uma cobertura muito limitada às suas conquistas foi o melhor que conseguiu, apesar do seu claro sucesso - quer no 3º, quer no 1º escalão do futebol português. E porque não foi o técnico destacado com maior regularidade pela imprensa e pelos ávidos seguidores do nosso futebol? Por manter uma postura serena e competente? Por não associar a sua pessoa a declarações polémicas e que pudessem ter prejudicado o rendimento do seu grupo de trabalho? Ou, talvez, por se concentrar exclusivamente em trabalhar em prol da sua equipa dentro e fora de campo, mantendo uma postura exemplar dentro das 4 linhas e na sala de imprensa? É de lamentar que figuras como esta sejam relegadas para planos secundários numa realidade jornalística - de realçar, novamente, que esta é uma generalização - em detrimento de figuras que, por fazerem mais ruído ou por terem um discurso que gera maior tráfego mediático, fazem manchetes numa base diária.
A verdade é que com mais ou menos mediatismo o agora treinador do SC Braga deu continuidade ao seu excelente trabalho no principal escalão do futebol português com uma campanha categórica no Paços de Ferreira, onde terminou no 7º lugar e foi um substituto à altura de Paulo Fonseca. De resto, é necessário salientar que cumpriu o seu objetivo primordial nos castores e, não só superou o registo do seu antecessor, como acabou o campeonato com os auri-verdes a 1 ponto da zona europeia que, se bem se recorda, acabou por ficar em nome do Arouca de Lito Vidigal.
Para explicar de forma clara é necessário analisar o discurso de uma parte considerável dos treinadores nos campeonatos profissionais de Portugal: o "jogo a jogo", "um jogo de cada vez" e "o próximo jogo é o mais importante da época". Embora sejam pontos de vista aceitáveis, muitas vezes com um fundamento admirável, é de salientar o afastamento de Jorge Simão dessa filosofia carpe diem, sendo ele um técnico que privilegia a big picture ou, em termos mais claros, a classificação final. É notório o seu interesse pela maratona e não pelo sprint. Para isso, o técnico de 40 anos mostra a sua ambição ao definir metas pontuais, tendo sido esse um dos principais pontos de destaque na sua primeira intervenção oficial como técnico do Sporting de Braga. E tudo começou na formação pacense quando definiu um objetivo muito simples para a sua equipa, objetivo esse que acabaria por cumprir: fazer 48 pontos, superando os 47 de Paulo Fonseca na época passada. Isto, de forma sintetizada, porque procurava fazer uma época melhor que a anterior, nem que a diferença fosse a de um simples ponto. E não interessava ter 10, 20 ou 30 no fim da primeira volta. O importante era, feitas as contas das 34 jornadas, o Paços de Ferreira somar 48 pontos. Uma derrota inesperada em terreno caseiro frente ao Tondela impediu a Europa de se tornar uma realidade para a formação de Jorge Simão na penúltima jornada, mas a meta pontual seria atingida na 32ª jornada.
Depois de consumado o regresso dos valentes transmontanos à elite do futebol português, Jorge Simão foi o eleito para suceder a Vítor Oliveira no comando técnico dos flavienses e, tal como fez no seu clube anterior, traçou uma meta junto do grupo de trabalho. Desta feita não eram 48, mas sim 40 - registo pontual que, em 15/16, permitiu ao Vitória Sport Clube terminar na metade da tabela. E, de facto, Jorge Simão procurava estabilizar uma formação acabada de voltar à primeira divisão. O objetivo, caso cumprido na totalidade, era suficiente para fazer uma prova sem preocupações face à zona de despromoção. Embora difícil, o técnico considerou o objetivo possível. E, caso o treinador de 40 anos permanecesse no Desportivo, certamente iria cumprir os objetivos pontuais pela 2ª época consecutiva. Em 13 partidas realizadas pelos transmontanos realizou uns impressionantes 19 pontos, deixando a equipa agora orientada por Ricardo Soares num notável 7º lugar. Tendo recebido e vencido o Moreirense no seu último jogo como treinador do Chaves para o campeonato, a sua prestação fantástica no clube recém promovido na Liga NOS terminou com apenas 2 derrotas em 13 jogos. E certamente um relativo sentimento agridoce, devido à aparente facilidade com que os flavienses iriam cumprir um objetivo, na teoria, de grau de dificuldade elevadíssimo. Só uma hecatombe na 2ª metade do campeonato iria impedir a equipa de alcançar a marca redonda dos 40 pontos.
E se ainda haviam dúvidas sobre a real qualidade de Jorge Simão nos vários campos que compõem um treinador de qualidade - porque treinar não é só orientar os treinos e/ou dar instruções durante os jogos -, o técnico natural de Pampilhosa da Serra mostrou mais uma vez a sua habilidade, desta feita em Trás os Montes. E se a formação presidida por Bruno Carvalho regressou ao topo do futebol português com um bom plantel, esse mesmo grupo de trabalho foi potencializado de uma forma extremamente entusiasmante por Jorge Simão que conciliou algo que poucos treinadores - mesmo incluindo os grandes do futebol português - conseguem fazer na Primeira Liga: ganhar e jogar bem. E a chave passou pelo equilíbrio da equipa já que não tendo uma estrutura atacante propriamente prolífera (13 golos marcados nos 13 jogos de Jorge Simão), os transmontanos vão-se apresentando como uma das formações mais sólidas, defensivamente falando, do campeonato. Antes do jogo no Dragão, onde já não se encontrava Jorge Simão no banco, o Chaves tinha sofrido apenas 11 golos em 13 partidas. Só Benfica, Porto e Braga têm menos golos sofridos que os flavienses, numa temporada que acaba por ganhar outro brilho face à eliminação dos dragões na Taça de Portugal que foi um dos raros momentos nesta temporada onde o Chaves e Jorge Simão foram realmente recompensados com o devido destaque. Dentro dos possíveis, claro está.
Como fez em Paços de Ferreira e em Chaves, Jorge Simão não deixou de traçar um objetivo pontual para o Sporting Clube de Braga. Desta feita são uns ambiciosos 65 pontos, mais 7 do que fez Paulo Fonseca pelos bracarenses na época passada (e, curiosamente, esta é a segunda ocasião onde Simão treina uma equipa que na temporada anterior esteve ao cargo de Paulo Fonseca). Classificando o técnico como o ponto fundamental na sua intervenção, esse traçar de um objetivo com os jogadores, os protagonistas dentro de campo, acaba por se tornar numa das imagens de marca de Jorge Simão durante a sua carreira no campeonato português, algo que mostra uma seriedade quase única no nosso futebol pela forma como anuncia o próprio objetivo. É igualmente uma lufada de ar fresco no futebol português observar um treinador a não desperdiçar as suas palavras com falsas modéstias e a afastar totalmente o mérito da sua figura. Jorge Simão reconhece o seu talento e capacidades enquanto líder e também passa muito por aí a sua confiança em traçar metas para o final da época. Mostra que, de uma maneira ou de outra, está confiante no seu grupo de trabalho e no trabalho que é realmente capaz de fazer, podendo ultimamente concretizar esses objetivos. Um técnico que não seja confiante e esteja convicto daquilo que pode realmente realizar com um determinado grupo de jogadores naturalmente não poderá traçar metas porque, talvez, nem ele acredita que elas sejam possíveis de alcançar.
Tendo encarado a sua primeira intervenção como técnico do Sporting de Braga e as posteriores questões dos jornalistas com uma enorme frontalidade e genuinidade, um palco maior parece enquadrar-se perfeitamente como o habitat de Jorge Simão que pode ter finalmente condições perfeitas - não que não o tivesse nos outros clubes, mas com um palco maior vêm outros recursos para trabalhar - para se tornar a revelação do futebol português em termos técnicos, englobando não só para essa distinção os seus resultados desportivos (que nunca deixou de cumprir em Belém, Paços de Ferreira ou Chaves) mas como a sua postura única no futebol português, que faz dele um exemplo em como se expressar no futebol e uma figura a reter para as próximas épocas por essas mesmas razões. Será 2017 o ano em que a comunicação social desportiva nacional irá finalmente acordar e perceber a verdadeira pérola que tem em Jorge Simão?
A verdade é que com mais ou menos mediatismo o agora treinador do SC Braga deu continuidade ao seu excelente trabalho no principal escalão do futebol português com uma campanha categórica no Paços de Ferreira, onde terminou no 7º lugar e foi um substituto à altura de Paulo Fonseca. De resto, é necessário salientar que cumpriu o seu objetivo primordial nos castores e, não só superou o registo do seu antecessor, como acabou o campeonato com os auri-verdes a 1 ponto da zona europeia que, se bem se recorda, acabou por ficar em nome do Arouca de Lito Vidigal.
➤ E porque é que Jorge Simão cumpriu o objetivo traçado na capital do móvel?

Bruno Moreira, com 14 golos, acabaria por ser o melhor marcador dos castores e um dos principais pilares para a concretização de uma meta que não foi delineada a meio do campeonato ou no último terço. Jorge Simão e o seu grupo de trabalho cumpriram um objetivo que foi delineado desde o início do campeonato - já o dizia em agosto de 2015 - de forma cuidada, sem qualquer euforia sobre uma eventual qualificação europeia ou determinado posto na classificação. Sem levantar ondas, os pacenses melhoraram o registo de Paulo Fonseca em 2014/2015 com uma grande qualidade exibicional ao longo da Liga NOS. Uma pena, reitero, que não tenho sido atribuído o destaque merecido a uma época que, planeada meticulosamente, viu uma equipa comprometer-se a um objetivo durante toda uma temporada e, eventualmente, cumpri-lo com consistência e, em ocasiões, momentos de excelência.
➤ Traçar metas realistas, mas ambiciosas
O Paços de Ferreira não foi o único clube onde Jorge Simão chegou e imediatamente traçou metas pontuais na qual se iria focar durante toda a temporada, encarando dessa forma o campeonato como um todo, uma maratona e nunca como uma corrida de 100 metros ou uma simples questão de "jogo a jogo", sem qualquer perspetiva para o futuro a médio-longo prazo. Com esta última filosofia, completamente oposta à de Jorge Simão, não existem quaisquer objetivos. Qual é a motivação que terá um atleta em entrar em campo num grupo de trabalho onde não há expectativas ou o delineamento de um alvo a ser atingido no fim da temporada? O atual treinador do Sporting de Braga ganha pontos neste campo por chegar aos clubes e delinear metas efetivas junto dos jogadores, fazendo com que o seu grupo de trabalho tenha uma razão para treinar no duro e, no fim-de-semana, dar um pique de aceleração extra no último lance do jogo para garantir os 3 pontos.

E se ainda haviam dúvidas sobre a real qualidade de Jorge Simão nos vários campos que compõem um treinador de qualidade - porque treinar não é só orientar os treinos e/ou dar instruções durante os jogos -, o técnico natural de Pampilhosa da Serra mostrou mais uma vez a sua habilidade, desta feita em Trás os Montes. E se a formação presidida por Bruno Carvalho regressou ao topo do futebol português com um bom plantel, esse mesmo grupo de trabalho foi potencializado de uma forma extremamente entusiasmante por Jorge Simão que conciliou algo que poucos treinadores - mesmo incluindo os grandes do futebol português - conseguem fazer na Primeira Liga: ganhar e jogar bem. E a chave passou pelo equilíbrio da equipa já que não tendo uma estrutura atacante propriamente prolífera (13 golos marcados nos 13 jogos de Jorge Simão), os transmontanos vão-se apresentando como uma das formações mais sólidas, defensivamente falando, do campeonato. Antes do jogo no Dragão, onde já não se encontrava Jorge Simão no banco, o Chaves tinha sofrido apenas 11 golos em 13 partidas. Só Benfica, Porto e Braga têm menos golos sofridos que os flavienses, numa temporada que acaba por ganhar outro brilho face à eliminação dos dragões na Taça de Portugal que foi um dos raros momentos nesta temporada onde o Chaves e Jorge Simão foram realmente recompensados com o devido destaque. Dentro dos possíveis, claro está.
➤ Lufada de ar fresco no futebol português
Face ao despedimento de José Peseiro, o presidente do Sporting de Braga teve que agir rapidamente para arranjar um substituto para o clube minhoto e é de realçar a sua excelente decisão. Se considerarmos que o Vitória SC está no lugar onde merece estar no campeonato português, a lutar por um lugar europeu, e que a época passada foi um caso isolado, o Chaves é definitivamente a principal surpresa do futebol português na presente temporada e António Salvador deve a capacidade de reconhecer em Jorge Simão o talento necessário para liderar um plantel muito mais capaz do que aquilo que produziu até esta fase da temporada, apesar de no momento em que este é lançado estar a ocupar o pódio do campeonato. E se é verdade que o Gverreiros do Minho têm sido casa para alguns dos treinadores portugueses mais sucedidos da atualidade nos últimos anos, só quem não conhece o trabalho de Jorge Simão pode acreditar que, dentro de um menor ou maior período de tempo, também será ele um dos técnicos portugueses mais bem sucedidos.
O discurso realista, honesto, genuíno e convicto de Jorge Simão é uma verdadeira lufada de ar fresco no futebol português. Como em tudo na vida é necessária, dentro de uma estrutura, a existência de um líder com uma convicção que faça com que (neste caso os adeptos, plantel, equipa técnica e direção) as suas palavras sejam encaradas com seriedade e veracidade. A primeira intervenção do técnico do Sporting Clube de Braga é, fora dos relvados, um dos momentos altos da época desportiva em Portugal até ao momento. E, para variar a tendência no nosso futebol, pelos melhores motivos.
O discurso realista, honesto, genuíno e convicto de Jorge Simão é uma verdadeira lufada de ar fresco no futebol português. Como em tudo na vida é necessária, dentro de uma estrutura, a existência de um líder com uma convicção que faça com que (neste caso os adeptos, plantel, equipa técnica e direção) as suas palavras sejam encaradas com seriedade e veracidade. A primeira intervenção do técnico do Sporting Clube de Braga é, fora dos relvados, um dos momentos altos da época desportiva em Portugal até ao momento. E, para variar a tendência no nosso futebol, pelos melhores motivos.
"Sou muito convicto, realmente, naquilo que posso fazer e acho que isso é uma das coisas que me fez ter este trajeto e estar aqui."

Tendo encarado a sua primeira intervenção como técnico do Sporting de Braga e as posteriores questões dos jornalistas com uma enorme frontalidade e genuinidade, um palco maior parece enquadrar-se perfeitamente como o habitat de Jorge Simão que pode ter finalmente condições perfeitas - não que não o tivesse nos outros clubes, mas com um palco maior vêm outros recursos para trabalhar - para se tornar a revelação do futebol português em termos técnicos, englobando não só para essa distinção os seus resultados desportivos (que nunca deixou de cumprir em Belém, Paços de Ferreira ou Chaves) mas como a sua postura única no futebol português, que faz dele um exemplo em como se expressar no futebol e uma figura a reter para as próximas épocas por essas mesmas razões. Será 2017 o ano em que a comunicação social desportiva nacional irá finalmente acordar e perceber a verdadeira pérola que tem em Jorge Simão?
"Não tenho a coragem de estar no terceiro lugar e dizer que vou lutar pelo quarto."
- Jorge Simão, 20 de dezembro de 2016
Luís Barreira,
Crónica Futebolística
Parabéns por este excelente artigo. Obrigado
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