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Watford FC: sociedade das nações

  Situada a cerca de 30 quilómetros do centro de Londres, a cidade de Watford tem a reputação de ser relativamente tranquila. Com 90 mil habitantes, cerca de 75% da sua população total é justamente oriunda da Inglaterra. Governada por um liberal democrata, a cidade destaca-se por aspetos e estruturas tipicamente inglesas. Não há que enganar. Mas também tem um clube de futebol, o Watford Football Club que milita na Premier League. E se por essa Europa fora há um clube que deixa os símbolos, a cultura e a identidade da sua cidade completamente de lado, o Watford é um dos exemplos com menção obrigatória. Sobretudo quando se tocam nos dados demográficos.

  Numa altura em que a Premier League e o futebol inglês passam por uma fase de fortes esperanças sobre a sua nova geração, e sobre a valorização geral do seu futebolista, a equipa orientada por Quique Flores, com os seus próprios valores e ideias, vai contra tudo o que tem sido idealizado na nação britânica. Falamos de uma equipa que tem, nesta altura, mais italianos que ingleses no seu plantel (também e sobretudo por influência de Gianfranco Zola que treinou a equipa em 2012/2013). Com apenas 3 jogadores ingleses - com total de 4 originais da Grã-Bretanha - é, obviamente, a equipa da Premier League com maior presença de futebolistas estrangeiros nas suas fileiras: 88,6%. Com apenas 11,4% de ingleses no seu plantel, é normal que o Watford de Quique Flores imprima diferente ideias dentro de campo. As restantes equipas equipas promovidas, o Bournemouth e o Norwich, têm cerca de 50% de ingleses nos seus plantéis. A diferença é óbvia. E gigante.

... MAS AFINAL, HÁ QUALIDADE?

  Há. E muita. Embora não seja consensual e altamente criticada de forma pontual, a aposta no futebolista estrangeiro pode ser justificada quando há indícios de qualidade e, mais importante ainda, de um rendimento aceitável no plano desportivo. O clube recém-promovido tem protagonizado algumas das aquisições mais interessantes da época, tendo reforçado todos os setores, sem exceção, de forma eficiente. E mais do que procurar o futebolista inglês, Quique e a restante estrutura do Watford procuram eficiência... sendo ela proveniente de que parte do globo for. Se essa já era uma das características que identificava o clube nas últimas temporadas, ganhou contornos mais claros na nova temporada. Afinal de contas nunca foi fácil preencher um (bom) plantel com futebolistas nacionais. E não podemos ser todos Belenenses: a aposta no futebolista nacional é cada vez menos frequente.

  Com o plantel atual constituído por 29 jogadores, Quique tem opções válidas para todas as posições. Talvez mais importante, tem várias alternativas para cada posição. Com um plantel sólido que valeu a subida àquela que é considerada por muitos como a melhor liga do mundo, muitas adições interessantes complementam da melhor forma esta autêntica sociedade das nações que é o Watford. José Holebas, Valon Behrami ou José Manuel Jurado (na imagem) não deixam ninguém indiferentes, juntando também às inteligentes aquisições da parede que é Sebastian Prödl ou ao fantástico extremo que é Berghuis, vindo do AZ. No final de contas são uma dezena de entradas que completam um lote que necessitava obrigatoriamente de ser reforçado. Com ou sem ingleses, uma coisa é certa: qualidade (individual) há muita. O segredo agora passa por ajustar todo esse brilhantismo no processo de jogo dos Hornets.

22 NACIONALIDADES. COMO SE REPARTEM?


 14 nacionalidades pertencentes ao continente europeu, 5 ao continente americano e 3 ao africano. Numa das equipas com mais diversidade na história do futebol, o Watford tem uma incrível e quase inédita mescla no seu balneário. No primeiro embate oficial da temporada frente ao Everton, onde o Watford mostrou excelente apontamentos e 'cavou' um brilhante empate (2-2) em Goodison Park, Quique Flores lançou inicialmente 11 jogadores, sendo todos de nacionalidade diferente. No banco de suplentes estavam presentes mais 7 elementos a representar outras 5 nações. Apesar dos seus aspetos positivos, tamanhas discrepâncias nas respetivas culturas futebolísticas e em certos aspetos comunicativos podem ser as maiores e mais evidentes fragilidades desta equipa. 


A VISÃO DE QUIQUE FLORES

 Como já tive oportunidade de referir, esta ideia de diversidade é interessante e tem as suas vantagens. Pode ser muita coisa, mas não é consensual. A pessoa a quem mais interessa o sucesso deste grupo de trabalho, excluindo a própria estrutura do clube, é ao treinador espanhol Quique Flores. E para o técnico de 50 anos as críticas serão apenas poeira - que rapidamente se desvanecerá, caso os resultados sejam positivos dentro de uma base regular. Vê na diversidade uma maior facilidade no processo de novos hábitos e novas rotinas de jogo, um argumento totalmente legítimo. Ao dizê-lo, afirma que não é tão simples executar da mesma forma ao trabalhar com mais futebolistas ingleses (o que, novamente, não está errado). Dentro de um plantel que pode de certa forma parecer confuso de diversas formas, uma coisa é certa: Quique tem as suas ideias definidas e o oceano de nacionalidades parece ser mesmo o que lhe interessa menos. O importante não é sabê-las de cor, mas sim conhecer e idealizar em campo o que se faz nos treinos e se diz no balneário.

O "NÃO TÃO EXISTENTE" OBSTÁCULO DA LINGUAGEM

  Indubitavelmente uma das maiores e mais evidentes fragilidades do Watford, um número tão elevado de bandeiras no balneário pode originar alguns problemas na comunicação. Se é verdade que o inglês é a língua global e uma das mais faladas a nível mundial, é também verdade (ou deveras provável) que nem todos os jogadores a dominem plenamente. Além de dominar bem o inglês, Quique Flores é espanhol e consegue, em caso de necessidade, entender-se de forma total com os 4 atletas que partilham a sua língua. Esse é também (e um dos maiores) um grande ponto a favor. Seja como for, dentro de campo, a linguagem do futebol é soberana. E com ingleses, espanhóis, italianos, suíços ou checos, todos lutam e falam para o mesmo objetivo.

Luís Barreira

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