Avançar para o conteúdo principal

Término do enguiço londrino

  Foi novamente um Porto bilateral que se apresentou em Londres para defrontar o Nápoles, vice-campeão italiano da época transata. A partida de hoje trouxe, porém, uma particularidade para os azuis e brancos: tiveram sucesso. Pela primeira vez no Emirates, é preciso referir. Quebrou-se o aparente enguiço que persistia em assombrar a equipa portuguesa nas suas visitas a Londres. Pela primeira vez em 8 anos os campeões nacionais venceram no imponente estádio do Arsenal, uma marca a assinalar e a recordar por uma questão de orgulho e prestígio.

  O adversário era também ele imponente. Oriundo duma região litoral e socialmente bastante discreta, conhecida pelas suas praias e pelo seu obedecer aos costumes tradicionais do comércio (não tivessem eles um dos maiores mercados de toda a Itália), conclui-se que o clube contradiz-se à cidade. A identidade do clube é presente e contínua: criativa e irreverente. Ferida pela perda do seu elemento mais sonante, Cavani, a equipa italiana reforçou-se com outros elementos criativos e efectivos na linha atacante: Mertens, Callejón e Higuaín que será agora a principal referência dos azzurri.

  Ora, se ontem o Porto entrou melhor frente ao Galatasaray, hoje decidiu entrar em campo o cenário oposto. Se a entrada no jogo de ontem foi boa, agressiva e expressiva, hoje faltou clarividência no último terço - algo que de resto acontecia muito com Vítor Pereira. Uma boa posse de bola e circulação da mesma foram alguns dos aspetos positivos, mas não suficientes. O Nápoles aproveitou essa falta de discernimento, causada por fatores como a fadiga, e foi gradualmente crescendo na 1ª parte. Não que tivesse o controlo do jogo (porque nunca o teve de forma efetiva e clara), mas era a equipa mais eficiente em termos ofensivos. Chegou ao golo de grande penalidade, sendo que ambos os golos sofridos pelo FC Porto nesta competição foram da marca dos 11 metros. Algumas dúvidas na existência ou não do mesmo, mas no final Pandev converteu sem qualquer problema ou consciência pesada. Sangue frio como se pede a um profissional.

  Na etapa complementar os papéis inverteram-se completamente. Um Porto mais pressionante e sufocante. O Nápoles quebrou por uma razão muito simples: tirou Radosevic do jogo, o médio que melhor equilibrou as tarefas defensivas/ofensivas da equipa italiana. Entrou Hamsik e Benítez fez um favor involuntário ao Porto: quebrou o jogo a favor da equipa portuguesa. Esta viu-se mais à vontade para realizar transições rápidas e pôr a defesa napolitana em sentido. Varela voltou a estar em bom plano hoje, mas no flanco direito. Josué, o "menino" de Paulo Fonseca, atuou na esquerda. Teve saudades da sua posição de 10 ao longo do jogo, fletindo muitas vezes para o interior. Devido à falta de profundidade pode-se dizer que isso não resultou na perfeição...

  Nota bastante positiva para a equipa de Paulo Fonseca, generalizando. A falta de pressão no miolo e profundidade nas laterais veio-se revelar apenas uma miragem com a 2ª parte de luxo da equipa portuguesa, quebrando então o enguiço de Londres. Pela 1ª vez o Porto vence no Emirates com uma 2ª parte coesa, capaz e espetacular. A falta de rotinas numa formação tática alternativa pode também ter saído caro ao Nápoles, sendo que Benítez não aposta no 352. Uma pena, diga-se. O Porto volta agora para Portugal com Aveiro e o 1º troféu da época na mira. Ilações positivas duma pré-época com mais sinais positivos do que qualquer outra coisa.
 
  1. VIRA O DISCO, TOCA O MESMO. Verdade se diga, o Porto esteve fenomenal na 2ª parte do encontro. Cometeu poucos erros e foi objetivo e eficiente, merecendo a vitória de forma indiscutível. Mas, sobretudo na 1ª parte, houve aspetos a melhorar. Aliado a uma boa posse de bola é necessária a subida dos laterais, garantindo profundidade aos flancos e ao setor atacante. Pode-se dizer que a garantia neste encontro, novamente, não foi total. Fucile mais interventivo que Alex Sandro, brasileiro que hoje até esteve superior a ontem. Fucile não mostra a consistência pedida. Ricardo, denominado agora como 4º lateral desta equipa, é rápido e é capaz de ser o lateral que mais metros sobe quando está em campo. Infelizmente para o Porto, isso não garante segurança defensiva.

  2. SOLIDARIEDADE. Callejón é um jogador verdadeiramente fascinante. É um extremo com uma boa qualidade técnica e capacidade de desequilíbrio, mas destaco a sua capacidade de ser solidário com os laterais da sua equipa. Aliás, pode ter sido essa a razão da aparente falta de profundidade nos flancos do Porto. Dá que pensar. O espanhol adquirido ao Real Madrid poderá pegar de estaca na equipa de Benítez, tendo em conta a importância que se dá a extremos que saibam defender na Serie A.

  3. VENI, VIDI... VICI? Quintero mostrou que tem capacidades para ser titular na equipa portista. O médio criativo veio, viu e tem todas as capacidades para vencer e triunfar em Portugal. Além de mostrar uma capacidade técnica e posicional acima da média abrilhantou ainda mais a sua estreia como titular com uma assistência para Ghilas. James era um 10 de origem que raramente teve oportunidade de ocupar essa posição no Porto, sendo que Quintero deverá agora procurar essas chances com Paulo Fonseca.

  4. SAUDADE, SAUDADE... Cesária Évora e o seu tema mais conhecido devem ter entoado inúmeras vezes na cabeça de Josué durante a sua estadia em campo frente ao Nápoles. O jogador que tomou destaque no Paços de Ferreira com Paulo Fonseca atuou hoje no flanco esquerdo, posição na qual o médio não se sentiu completamente estranho. Porém, a verdade é que talvez algum tipo de forma magnética empurrava o jovem português para o centro do terreno. Talvez até a sua intuição. Josué colocava-se constantemente no centro, a sua posição de origem. Por alguma razão eram raros os ataque que surgiam pela esquerda do ataque azul e branco.

Comentários

Popular Posts

Entrevista a Issey Nakajima-Farran

  Issey Nakajima-Farran is a 30 year old soccer player, artist and citizen of the world. He has played in 4 continents in his 12 professional years, After he parted ways with Impact Montreal, he's focusing in his art and shared with Crónica Futebolística his amazing life story. I would like to personally thank Issey for his sympathy and avaliability.      Before reading this interview, you can follow Issey in his social media: Instagram Twitter http://isseyart.com/  - He's avaliable to sign a message for who's interested in his prints.   Issey Nakajima-Farran é um futebolista, artista e cidadão do mundo de 30 anos. Já jogou em 4 continentes durante os seus 12 anos como profissional. Após rescindir com o Impact Monteal, foca-se agora na sua arte e partilhou com a Crónica Futebolística a sua magnífica história de vida. Gostaria de agradecer ao Issey pela simpatia e disponibilidade.   Antes de ler a entrevista, pode seguir Issey ...

20 potenciais revelações da Liga NOS

  Com mais uma temporada futebolística a aproximar-se mais e mais, é perfeitamente normal e compreensível que o nível de expectativa e euforia para ver os novos reforços em duelos oficiais - em especial os mais sonantes ou cuja 'novela' teve mais tempo de antena durante a pré-temporada - seja proporcional à posterior vontade de tirar ilações dos mesmos. Acontece que, por vezes, são os mais subtis a dar nas vistas. Não vivendo o mesmo clima de pressão, não é incomum ter um jogador quase incógnito a dar nas vistas e a brilhar. Ainda noutro cenário, a prata da casa pode explodir. Seja ou não reforço, hoje a Crónica Futebolística fala-lhe de 20 potenciais revelações da Liga NOS .   Para a lista abaixo há, claro, alguns requisitos. Jogadores com o valor e estatuto primeiramente reconhecido no futebol nacional e posteriormente internacional estão obviamente excluídos. Futebolistas cujo reconhecimento no futebol mundial é assinalável e relativamente consensual - casos de, por ...

O curado enfrenta o ferido

  Sabe-se que a meio da semana os dois adversários de hoje tiveram momentos completamente distintos no que toca a compromissos europeus. Começando pelas viagens. O Porto ficou-se pelo Dragão, enquanto que o Sporting viajou até à Hungria para defrontar o Videoton de Paulo Sousa. Os desfechos dos jogos em questão também foram diferentes, não fosse o Sporting despedir Sá Pinto se este tivesse vencido em terrenos forasteiros. Já os dragões conseguiram vencer o Paris Saint-Germain com uma exibição de gala, rara nos tempos de Vítor Pereira. Agressividade, discernimento, objetividade e criatividade caracterizaram os 90 minutos portista em relvado português. As duas equipas em momentos distintos encontram-se hoje. É a guerra do curado (depois de falhar a vitória frente ao Rio Ave) e do ferido. Na teoria já se sabe como seria o desfecho, porém existe quem diz que os clássicos são jogos à parte, que ignoram completamente a corrente de jogos recentes. Noutra palavra, imprevisíveis. ...