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Entrevista (#13) a António Tadeia

  António Tadeia é atualmente um dos mais conceituados e conhecidos analistas portugueses, trabalhando para a RTP. Tem um vasto currículo, tendo trabalhado em outras estações televisivas como a SIC (donde, de resto, fez a cobertura via comentários dos jogos de Portugal no EURO 2004). É do meu grande agrado que vos apresento este segmentos de perguntas e respostas e, igualmente, agradeço prontamente a António Tadeia pelo tempo disponibilizado para responder a estas perguntas.



Primeiramente, tenho que lhe perguntar de que forma as redes sociais têm importância para si e, se sim, de que forma.

  As redes sociais têm muita importância para mim, tanto como emissor como sobretudo como recetor. Por um lado, tudo o que produzo é colocado na minha página, de forma a poder chegar a mais pessoas. Por outro, servem-me para testar ideias, para ver que recetividade têm, mas também para descobrir coisas, outras formas de ver a mesma realidade. Os leitores podem hoje ser também inspiradores de quem emite opinião.

Qual é a sua primeira grande recordação como jornalista?

  Se me fala da minha primeira grande recordação como jornalista, suponho que queira dizer a mais antiga. Terá de ser o meu primeiro trabalho publicado, na Capital, em finais de Outubro de 1988.

Melhor recordação que tem na sua vida profissional?

  Lembro duas coisas em particular. Primeiro, o trabalho feito no Europeu de 2000, na Holanda, em que estive a coordenar no terreno a equipa do Record que acompanhava a seleção nacional. Depois, o nascimento e consolidação da revista Record Dez, de Abril de 2004 até ao momento em que de lá saí, em Setembro de 2005. A revista mudou e acabou por fechar. 

O que dizer sobre o atual panorama do futebol inglês?

  Tanta coisa... De repente a divisão entre os clubes que gastam como se não houvesse amanhã (Manchester City, mas também o Chelsea) e aqueles que vão consolidando o estatuto de grandes (Manchester United à cabeça) à base da continuidade. Alguma simpatia pelo trabalho feito no Arsenal, que vende sempre antes de ganhar, e curiosidade pelo que pode fazer Villas-Boas no Tottenham. E ainda a espera pelo renascimento dos dois gigantes de Liverpool.

Como caracteriza, atualmente, o futebol praticado nos principais escalões do nosso futebol? Acredita que há uma grande discrepância entre os dois primeiros escalões?

  Acho que não há assim uma discrepância tão grande. As melhores equipas da II Liga bater-se-iam bem com as de meio da tabela para baixo na I Liga. Há grande discrepância, isso sim, entre os quatro grandes, que reforçam o poder com as verbas das provas europeias, e o resto das equipas. Mas até essa pode ser anulada com dias bons ou maus.

Falando de si, como caracteriza a sua personalidade futebolística? Acredita ter alguma característica particular quer a analisar, comentar e argumentar?

  Procuro ser simples e direto. Costumo dizer que sou um gajo como outro qualquer, porque é isso mesmo. A diferença é que este é o meu trabalho e por isso dedico mais tempo à criação de alguns fatores diferenciadores. Mas cada vez mais me preocupo som a leitura de jogo e menos com a história dos protagonistas: porque nos dias de hoje toda a gente tem acesso a ela, pela internet.

Aproxima-se a Copa no Brasil, passando antes pelo cheirinho que será a Taça das Confederações. Acredita no apuramento português, apesar dos obstáculos que todos nós conhecemos?

  Portugal pode estar no Mundial, e nem sou radical ao ponto de dizer que terá de ser através do play-off. É certo que o topo do grupo se afigura muito difícil, mas se ganharmos todos os nossos jogos e a Rússia perder uma vez seremos primeiros. Depois, no play-off, tudo dependerá de quem nos calhar - sendo que dificilmente teremos a sorte de enfrentar outra Bósnia.

Fora dos campeonatos referidos, há algum que siga e quiçá lhe desperte algum sentimento especial?

  Gosto muito de ver a Premier League e a Bundesliga, mas ainda não percebi se tem apenas a ver com a qualidade das transmissões, que nessas Ligas são as melhores de todas. O Brasileirão também me suscita sempre muita curiosidade, mas só no PFC - gosto muito de os ouvir.

EURO2004, Portugal. Tinha 6 anos, mas você tinha já um vasto currículo e participou no evento. Que recordações tem dessa competição que uniu Portugal e colou-os às televisões?

  Lembro-me de muita coisa. Eu estava na Dez, pelo que não fiz o acompanhamento diário da prova. Fiz também os comentários dos jogos de Portugal na SIC. Lembro-me da vitória sobre a Rússia na Luz (que fiz na SIC), do sucesso sobre a Espanha em Alvalade (que acompanhei no estádio, para o Record), dos penaltis contra a Inglaterra (que vi na redação da Dez, pois calhou em dia de fecho) e de ir a Alvalade ver o jogo com a Holanda e do mar de gente a festejar à saída do estádio, que fez com que demorasse uma eternidade a chegar ao restaurante onde fui jantar a seguir. E depois lembro-me de, em folga, ir à Luz ver a final e de, após a derrota, ter ido a pé para casa sem perceber bem como tinha sido possível perder aquele jogo.

Por fim, tem algumas palavras de apreço para quem quer de facto seguir as pisadas de jornalista?

  Para ser jornalista há uma regra de ouro - ler muito, ler sempre. Foi isso que me disse o meu primeiro chefe a sério na profissão (o João Querido Manha) na nossa primeira conversa, em 1989. O resto aprende-se andando.

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