Avançar para o conteúdo principal

Entrevista (#11) a João Ricardo Pateiro

  João Ricardo Pateiro é atualmente um dos mais reconhecidos e conceituados jornalistas desportivos portugueses, independentemente do meio de comunicação que estejamos a falar. É narrador de jogos de futebol na TSF e nessa mesma rádio tem um programa chamado Entrelinhas. Ocasionalmente comenta jogos na SPORT.TV, sendo que não tem aparições muito frequentes nesta última estação. Em 2011 foi premiado com p melhor relato dum golo num jogo internacional (João Moutinho, Porto 3-0 Paços de Ferreira no dia 28 de outubro de 2011) atribuído pela ESPN Brasil e neste ano o de melhor jornalista de rádio, atribuído pela CNID. Enfim, é do melhor que há em Portugal, sem dúvidas. Na minha opinião pessoal, considero que seja um dos jornalistas mais influentes do nosso futebol.

  Agradeço naturalmente o tempo que disponibilizou para esta entrevista e, obviamente, espero que seja do agrado dos leitores. Com o aniversário do blog feito há pouco tempo, este é um presente que vem bem a calhar. Terminando as introduções, vamos ao que verdadeiramente interessa: as perguntas e respostas.

Perguntas/afirmações por Luís Barreira
Respostas de João Ricardo Pateiro
 


  1. Para introduzir as perguntas tenho de lhe pedir que faça um resumo do seu ano futebolístico.

  Olhe, fiz cerca de 80 relatos de futebol donde destacaria o campeonato da Europa, alguns jogos internacionais embora a carreira das equipas portuguesas não tenha atingido o brilhantismo de épocas anteriores, mas mesmo assim houveram alguns jogos internacionais que me deram gozo fazer. Mas o destaque vai naturalmente para o campeonato da Europa onde Portugal fez uma excelente prestação na Ucrânia e na Polónia e para os cerca de 80 jogos que relatei neste ano de 2012 e não direi que no mundo inteiro porque não sei, mas não conheço ninguém que faça tantos relatos de futebol como eu.

E certamente que todos nós gostamos de ouvir.

  Tenho noção que muita aprecia os meus relatos e que aprecia muito a forma como eu relato os jogos de futebol, mas também tenho a noção de que não agrado a toda a gente, e quando me perguntam isso digo-lhes que nem José Mourinho agrada a todos. Não tenho a pretensão de agradar a toda a gente, tenho a pretensão de agradar a maioria e penso que nesta altura mais do que agradar à maioria consigo agradar a esmagadora maioria.

  2. Falou na seleção nacional. Acredita que se naquela lotaria de grandes penalidades Portugal tivesse passado teria probabilidades de vencer "aquela" Itália em Kiev?

  Eu penso que sim. Penso que se Portugal tivesse passado contra a Espanha tinha muitas condições para vencer o campeonato na Europa. Só não concordo totalmente consigo quando diz que "as grandes penalidades são uma lotaria". Acho que existe ali, evidentemente, um factor sorte um pouco maior do que nas restantes componentes do jogo, mas acho que mesmo na marcação de grandes penalidades existe competência. Ou se é mais ou se é menos competente a marcar ou a defendê-las e eu penso que aí a Espanha foi mais forte que Portugal e passou à final do campeonato da Europa.

  Respondendo à segunda parte da pergunta, e como também já referi penso que se Portugal passasse contra a Espanha as probabilidades de Portugal ser campeão da Europa eram bastante grandes.

  Mérito para nuestros hermanos, mas a Itália mostrou-se muito debilitada naquela final...

  A Espanha também é muito forte, não é? A Espanha é nesta altura talvez a seleção mais forte do mundo ou pelo menos uma das mais fortes. É uma seleção que é campeã do mundo e da Europa, muito traquejada, muito rodada, com uma base dum clube que é o Barcelona onde os jogadores jogam praticamente de olhos fechados. Portanto, tudo muito bem alinhado e a Espanha é um adversário muito forte e isso deve ser tomado em conta. Seja como for concordo consigo, esperava um bocadinho mais de réplica da Itália, ou seja, esperava que a Espanha ganhasse e fosse campeã da Europa, mas que a Itália desse mais um pouco de luta.

  3. No início da sua carreira algum dia imaginou que chegaria à TSF e que seria um dos mais prestigiados e conhecidos relatadores de futebol do país?

  Eu nunca pensei muito nisso... é claro que todos nós temos sonhos e projetos de carreira e eu não fujo à regra, sempre tive as minhas ambições de projetar a minha carreira e de seguir aquilo que eu queria, mas nunca pensei ser considerado por muitos como "o melhor" ou ter esta visibilidade e mediatismo todo à minha volta.

E já ganhou prémios...

  Sim, ganhei o prémio CNID para melhor jornalista de rádio em 2012 e um da ESPN Brasil para melhor relato do mundo dum golo. Foi um prémio que me deixou muito satisfeito, um inédito no país, nunca ninguém tinha ganho essa prémio em Portugal do melhor relato a nível mundial dum golo de futebol e isso deixou-me muito feliz. Venho dum país muito forte em termos de comunicação e em termos de relatos e isso ainda me deixa mais satisfeito. Vem duma cadeia internacional que é um monstro a nível mundial que é a ESPN e, portanto, isso deixa-me muito orgulhoso, muito contente e é muito gratificante receber tudo isso, todos esses prémios e todo o carinho por parte dos ouvintes o que no fundo é um reflexo do meu trabalho e do quanto as pessoas gostam dele.

  4. Falou em projetos, eu falo em ideias. Donde surgiu a ideia de fazer músicas para os jogadores?

  A ideia das músicas para os jogadores não é 100% minha, aliás na génese a ideia é do João Paulo Meneses que é um colega meu na TSF, jornalista também. Sabe que eu gosto de cantar e de adaptar músicas em diversas situações e propôs-me adaptar músicas aos jogadores nos momentos dos golos. Por coincidência fui à casa de banho na TSF e vim com a música do Falcao que era:

 

  Então cheguei à redação e perguntei-lhe se era mais ou menos isto e ele disse que era exatamente isso. Então, fiz essa primeira música para o Falcao que foi um sucesso estrondoso e tive de fazer músicas para vários jogadores ao ponto de nesta altura ter mais de 50 músicas para jogadores.

  5. Qual é o sentimento de ganhar os prémios como os que ganhou?

  É o que lhe disse, os prémios que ganhei são o fruto do meu trabalho, representam o quanto as pessoas gostam do meu trabalho, deixam-me muito feliz e sinceramente sinto-me muito acarinhado pelos ouvintes, pelas pessoas na rua quando me abordam, sinto muito carinho de toda a gente e isso deixa-me muito contente e seja qual for a nossa atividade profissional é muito bom sentirmos que as pessoas gostam do que fazemos e esses prémios acabaram por ser reflexo disso.

  6. Falou no golo que lhe fez vencer o prémio da ESPN, eu falo em jogos. Qual o jogo mais emocionante que já narrou?

  O jogo que me marcou mais em termos de relato foi a final de Sevilha, em 2003,  quando o Porto conquista a Taça UEFA ganhando ao Celtic essa taça. Esse foi o jogo que até hoje mais me marcou e quando me perguntam isso diretamente digo que há vários jogos que me marcaram, mas quando me perguntam como me perguntou, em termos em relato, aquele que me vem diretamente à memória é esse jogo em Sevilha.

E falo da rádio porque é muito mais emocionante que a televisão no que toca a comentários.

  Sim, a rádio é mais, eu diria. Utiliza uma linguagem simples para as pessoas perceberem melhor. A rádio é um meio mais quente, a televisão é um meio mais frio e distante das pessoas. A rádio aproxima muito, é muito intimista, tem momentos em que é quase confessionário, não é? Isso cria um laço de muita afinidade com o ouvinte, algo que a televisão não proporciona por ser um meio de comunicação diferente.

  7. Nunca pensou em fazer a transição de rádio para televisão?

  Eu gosto muito de fazer televisão, ao contrário do que as pessoas pensam. Sou apaixonado pela rádio, mas também gosto muito de fazer televisão e vou matando esse bichinho de vez em quando com alguns jogos que faço para a SPORT.TV. Faço alguns trabalhos em reportagens, não só em jogos e isso permite-me matar o bichinho da televisão.

  8. Qual foi o jogador ou personalidade ligada com o futebol que mais gostou de conhecer nas suas aventuras futebolísticas?

  Como pessoas, nem vou falar tanto em jogador mas sim por exemplo em treinadores que eu gostei de conhecer: Toni e Fernando Santos, duas pessoas que eu gostei muito de conhecer ao longo deste meu trajeto profissional que eu destacaria como dois bons profissionais, duas fantásticas pessoas. Depois, gostei muito de conhecer o Paulo Bento por exemplo, gosto muito de estar com o João Tomás, um amigo que tenho e uma ótima pessoa, gosto muito de estar com ele. E há outros jogador mais mediáticos também que fui conhecendo e com quem fui travando algumas relações de maior proximidade e de amizade.

  9. Falando daqueles que não conheceu, qual o seu jogador e treinador de eleição?

  O meu treinador de eleição é José Mourinho. Acho que está à frente de todos, é um treinador que sempre achei fantástico... acho que é um orgulho para Portugal ter um treinador como José Mourinho, assim como é orgulho para Portugal ter um jogador como Cristiano Ronaldo, são coisas que nos devem orgulhar. Destacaria esses 2 por serem bons, por serem extremamente bons e, claro, por serem portugueses.

  10. Quais são as suas expectativas profissionais para 2013?

  Espero continuar a fazer um trabalho que as pessoas gostem, continuar os meus relatos, tentar melhorá-los e fazer sempre melhor e basicamente é isso, não tenho muito mais a dizer sobre esse assunto. Sobre expectativas nunca se sabe o que vai acontecer no futuro, eu espero que aconteçam coisas bons a nível profissional e que a minha carreira continue a ser uma boa carreira no jornalismo.

  Talvez fazer mais um pouco de televisão, era uma coisa que me agradava. O programa que tenho agora na TSF, o Entrelinhas: cimentar cada vez mais esse programa e torná-lo uma referência no meio radiofónico em Portugal e no panorama das entrevistas desportivas em Portugal porque é um programa que apareceu há pouco, tem a minha assinatura e gostava que ele vingasse cada vez mais com a colaboração daqueles que são os protagonistas, quer os jogadores, treinadores e dirigentes do futebol português. Conto com eles para que o programa seja cada vez mais ouvido e se torna uma referência na entrevista em Portugal.

  -- Votos de um bom Natal e Ano Novo de João Ricardo Pateiro a todos os leitores do blog, agradecendo também o carinho com que sempre o têm tratado e acompanhado o seu trabalho, principalmente na TSF. Dele para vós um grande abraço.

Comentários

Popular Posts

Entrevista a Issey Nakajima-Farran

  Issey Nakajima-Farran is a 30 year old soccer player, artist and citizen of the world. He has played in 4 continents in his 12 professional years, After he parted ways with Impact Montreal, he's focusing in his art and shared with Crónica Futebolística his amazing life story. I would like to personally thank Issey for his sympathy and avaliability.      Before reading this interview, you can follow Issey in his social media: Instagram Twitter http://isseyart.com/  - He's avaliable to sign a message for who's interested in his prints.   Issey Nakajima-Farran é um futebolista, artista e cidadão do mundo de 30 anos. Já jogou em 4 continentes durante os seus 12 anos como profissional. Após rescindir com o Impact Monteal, foca-se agora na sua arte e partilhou com a Crónica Futebolística a sua magnífica história de vida. Gostaria de agradecer ao Issey pela simpatia e disponibilidade.   Antes de ler a entrevista, pode seguir Issey ...

20 potenciais revelações da Liga NOS

  Com mais uma temporada futebolística a aproximar-se mais e mais, é perfeitamente normal e compreensível que o nível de expectativa e euforia para ver os novos reforços em duelos oficiais - em especial os mais sonantes ou cuja 'novela' teve mais tempo de antena durante a pré-temporada - seja proporcional à posterior vontade de tirar ilações dos mesmos. Acontece que, por vezes, são os mais subtis a dar nas vistas. Não vivendo o mesmo clima de pressão, não é incomum ter um jogador quase incógnito a dar nas vistas e a brilhar. Ainda noutro cenário, a prata da casa pode explodir. Seja ou não reforço, hoje a Crónica Futebolística fala-lhe de 20 potenciais revelações da Liga NOS .   Para a lista abaixo há, claro, alguns requisitos. Jogadores com o valor e estatuto primeiramente reconhecido no futebol nacional e posteriormente internacional estão obviamente excluídos. Futebolistas cujo reconhecimento no futebol mundial é assinalável e relativamente consensual - casos de, por ...

O curado enfrenta o ferido

  Sabe-se que a meio da semana os dois adversários de hoje tiveram momentos completamente distintos no que toca a compromissos europeus. Começando pelas viagens. O Porto ficou-se pelo Dragão, enquanto que o Sporting viajou até à Hungria para defrontar o Videoton de Paulo Sousa. Os desfechos dos jogos em questão também foram diferentes, não fosse o Sporting despedir Sá Pinto se este tivesse vencido em terrenos forasteiros. Já os dragões conseguiram vencer o Paris Saint-Germain com uma exibição de gala, rara nos tempos de Vítor Pereira. Agressividade, discernimento, objetividade e criatividade caracterizaram os 90 minutos portista em relvado português. As duas equipas em momentos distintos encontram-se hoje. É a guerra do curado (depois de falhar a vitória frente ao Rio Ave) e do ferido. Na teoria já se sabe como seria o desfecho, porém existe quem diz que os clássicos são jogos à parte, que ignoram completamente a corrente de jogos recentes. Noutra palavra, imprevisíveis. ...