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O calcanhar que valeu ouro

  O maravilhoso gesto técnico de Jackson abriu o caminho para a vitória do Porto frente a um Sporting que muitos chamariam de fragilizado ou mole. A verdade é que, sem obter uma exibição brilhante, os lisboetas deram uma boa resposta no estádio dos bicampeões nacionais. Dentro dos possíveis e sem exageros, claro. Em poucas sessões de treino era impensável que Oceano conseguisse montar uma equipa completamente diferente daquela que era a imagem de Ricardo Sá Pinto. A vitória portista vem deixar a equipa azul e branca com 8 pontos de vantagem sobre os leões, distanciando-se do Sporting de Braga e colando-se novamente ao Benfica na liderança isolada do campeonato.

  Pela entrada no jogo pareceram nulas as chances do Sporting obter um resultado positivo no jogo. Não atacava (quando conseguiram o seu primeiro ataque, sem perigo qualquer de resto, já a equipa da casa disponha de uma mão cheia deles), tinha dificuldades em transpor o meio-campo o adversária e tentava persistentemente partir para transições rápidas com passes em profundidade. Mas mal, claramente. A defesa alta do Porto foi parte da estratégia montada por Vítor Pereira e, de resto, não foi a primeira vez que isso mesmo aconteceu. Frente ao Vitória, no mesmo estádio, os azuis e brancos já tinham montado essa estratégia, quebrando quais tentativas de transições do adversário. Mais complicada ficou a tarefa quando Jackson fez o que a imagem de cima mostra. Luís Freitas Lobo chamou o golo de poema, uma obra de arte futebolística. Permitam-me concordar. A partir daí houve quem adormecesse.

  O Porto marcou um excelente golo, como se sabe. Danilo assistiu Jackson para o golo inaugural. Às palavras de Vítor Pereira, é um gesto habitual para o colombiano nos treinos, tentando colocar essa habilidade como seu apanágio. Porém, a equipa em vantagem adormeceu. Marcou e abrandou, recuou. Mal, diga-se. Não é coisa que se faça... sendo o adversário bom ou mau. O Sporting começou a expor-se, mas sem arriscar em demasia. 

  De resto o seu onze já foi montado com um certo cuidado, privilegiando e adornando uma atitude mais cautelosa. Não defensiva, cautelosa. Pranjic rendeu Capel por isso mesmo. É um jogador muito polivalente, algo que o Sporting certamente anotou aquando da sua aquisição. Joga a defesa, a médio e a média-ala. O cuidado foi travar Danilo, esse perigo à solta. Nem Pranjic nem Insúa deram muito nas vistas no ataque. Mau era, com James e Danilo no mesmo flanco. O mesmo fez um passe de luxo para aquela obra de Martínez. A verdade é que com essas cautelas o Sporting começou a descair o seu jogo para a direita e para o centro. Izmailov e Carrillo eram os mais chamados, Wolfswinkel roçou o ridículo.

  O melhor período do Sporting aconteceu na segunda metade da primeira parte. Começou a ficar por cima na partida e empurrou os seus blocos, de forma a forçar um atrito que baixasse a defesa do Porto. Resultou e começaram a surgir lances de relativo perigo, mas faltou clarividência e alguém que pudesse manter o mesmo nível de objetividade dos restantes (que não foi extraordinária). Por outras palavras, faltou um Jackson no Sporting. Alguém que pudesse ter olhos firmes para a baliza e igualmente ajudar na construção de jogo ofensivo. Ricky van Wolfswinkel mostrou porque é que está a ser criticado fortemente pelos adeptos do Sporting. Marca pouco, enrola demasiado os lances e tem decisões estapafúrdicas na conclusão dos mesmos. Ao intervalo o Porto vencia. As reações eram divididas, o Sporting ia para o túnel com expectativas altas para a etapa complementar. 

  Essa mesma foi mais equilibrada, com o Porto a ganhar nova vida com Atsu, esse craque. Num par de lances fez mais do que em Varela em quase 70 minutos. Cada vez mais sobe na escalada para a titularidade. É um jogador que tem olhos para a baliza, tem bons pés e, mais importante, não complica como o seu concorrente no lugar. Ganha-lhe por isso, convém referir.

  Há também que também nas grandes penalidades, esses lances tão controversos. Não sou árbitro, não tenciono tirar qualquer tipo de curso para tal. Mas há que dizer que no 1º lance a bola toca na mão/no braço de Cedric. Intencional? Provavelmente não. Se é motivo para grande penalidade? Deixo ao cargo de Jorge Sousa que certamente sabe mais do que eu. São casos que deixam dúvidas a todos, sendo interpretados de forma diferente. Para isso nem há discussão possível, pontos de vista continuarão a sê-los independentemente das forças gravíticas que os tentam negar. O segundo lance foi, igualmente ele, controverso. À vista desarmada a grande penalidade é indiscutível, mas vendo a câmara dos pássaros, às palavras de Freitas Lobo, deixou muitas dúvidas. Jackson corre várias etapas mentais em frações de segundo:

- Apercebe-se que está a ser diretamente marcado;
- Aproveita o ligeiro contacto que existe, lançando-se ao chão. O árbitro reconheceu o contacto.

  Não há que condenar Jackson, foi inteligente. E o central do Sporting sabe certamente que contactos na grande área são sempre motivos de conversa e dúvidas. Foi imprudente, pagou caro. James não falhou, Rui Patrício não deixou. Boulahrouz deverá ter sido a cara do desalento, num jogo em que ainda havia esperança para os visitantes. Esperançosos e emocionais estavam eles, jogavam pouco com a cabeça. 

  Há que ver alguns aspetos de bloco de notas (táticos) muito rapidamente. James a 10, Moutinho mais recuado, a liberdade que James teve para inventar lances, Fernando mais atrevido que o normal e Otamendi que quis valer por ele e Maicon. Isto no lado azul e branco, claro. O facto do colombiano estar a jogar numa posição mais interior permitiu que (imagine-se) Martínez adoptasse outra posição. Uma mais descaída para a direita, parecia trocar ele com o seu compatriota. De resto esse flanco foi muito mais usado, com Atsu também em evidência. Teve um lance digno de aplausos no lado direito, progredindo em direção à área. Noutras notas, há que destacar o bom jogo de Carrillo. Criativo, esforçado... mas imaturo, porém. 

  Não sendo um jogo brilhante, foi consistente para o lado azul e branco. Já para os verdes foi um jogo onde pouco se esperava. Nada que surpreendesse, dados os resultados mais recentes. As marcas ainda devem estar visíveis, nada que não se compreenda.  Novamente o Sporting mostrou ser uma formação muito impulsiva, de resto à imagem de Oceano, se querem pôr as coisas nestes pontos de vista. Jogaram mais uma vez de cabeça quente, faltando espaço para esvaziar as ideias em vários períodos do jogo. Nos lances mais valioso, houve Hélton. Patrão, esse.

  Vitória fundamental para os lados portistas. Defesa consistente e sem erros, meio-campo muito trabalhador e ataque, regra geral, criativo e objetivo. Jackson mostrou ter habilidade para concretizar lances difíceis. Já o Sporting, não demonstrou uma qualidade avassaladora. Previsível. Há agora dois líderes no campeonato. O Sporting, mais em baixo na tabela, olha para a lista de possíveis substitutos para ocupar um lugar no banco de suplentes. Fala-se em estrangeiros. O Porto segue a sua atividade amanhã, apenas com a situação Maicon para se preocupar.

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