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Os homens da diferença

Desde já o meu muito obrigado ao Pedro Peralta, autor deste post. Surgiu a ideia de colocar esta crónica cá, e é com todo o gosto que o faço. Bem, e é isto. Espero que gostem e como habitual dêem o vosso feedback. Bem haja.


OS HOMENS DA DIFERENÇA

Após afirmar que abandona o seu posto como líder do F.C. Barcelona, Guardiola é aclamado pela gigante maioria como o grande responsável não só do brilhante futebol mas como também da afirmação da mentalidade culé. É-lhe atribuida a glória do sucesso barcelonista nos últimos quatro anos, mais que a qualquer outro. José Mourinho arrasta multidões como adeptos das suas equipas, pois é como Midas. No que toca, torna-se ouro. Ganha. A Jürgen Klopp são atribuídos os louros do domínio no futebol germânico por parte do Dortmund nas últimas temporadas, muito por conseguir fazer sucesso após perder constantemente jogadores fulcrais do seu grupo de trabalho. Estes são alguns entre muitos casos notabilizados. Pode um homem ser tão central no sucesso?

Ao olharmos para o campeonato principal do futebol inglês encontramos evidências de que a resposta será afirmativa. O impacto de Brendan Rodgers e Paul Lambert no Swansea City e Norwich City, respectivamente, não passa despercebido. Eram os principais visados pela crítica aos últimos dois postos da Barclays Premier League 2011/2012. Hoje estão colados na tabela, é verdade. Mas com a permanência totalmente garantida (11 pontos acima da despromoção) e a meio da classificação, com uma tranquilidade que não era esperada. No outro lado da barricada, o Queen’s Park Rangers - vencedor da Championship transacta e investidor de mundos e fundos para resgatar jogadores de inegável qualidade e enorme experiência no primeiro escalão - ainda luta pela permanência na última jornada.

Ainda mais notável é ao analisar a experiência dos planteis referidos. Da espinha dorsal do plantel de Paul Lambert, apenas Andrew Surman (sete jogos pelo Wolves) e John Ruddy (um jogo pelo Everton) tinham experiência de Premier League. E escassa. Tão recente quanto Maio de 2009, Grant Holt e Simeon Jackson defrontavam-se entre si para disputar o playoff final da League Two. Swansea pouco mais tinha. Routledge era o mais experiente, mas nem é dos jogadores nucleares. Sinclair, Monk e Graham também já tinham jogado ao mais alto nível, mas com poucas oportunidades.
Isto significa que, pelo mundo fora, existem jogadores de qualidade em escalões inferiores e que podem ser muito úteis se inseridos nos contextos correctos. É aqui que entram Brendan Rodgers e Paul Lambert. Os dois refletem os opostos no espectro como jogadores. Rodgers terminou a carreira de jogador aos 20 anos, muito por culpa duma lesão. Lambert teve uma carreira notável, com 40 internacionalizações e uma Liga dos Campeões ganha pelo Borussia de Dortmund em 1997 (juntamente com o nosso Paulo Sousa). Assemelham-se como treinadores.

Do “just win”

Paul Lambert é claramente um homem guiado por um objectivo. A filosofia do seu futebol – bem como a do seu mentor, Martin O’Neill - assim espelha. É futebol jogado para simples e unicamente ganhar. Mas não são todos? Bem… sim, mas Lambert usa as armas certas para cada batalha. Mistura vários estilos – variando-os consoante o adversário – de forma a adaptar os seus recursos ao melhor formato possível para vencer. Mas não é por isso que deixa de ser um espectáculo atractivo. Com 3 meio-campistas de construção ou com um dez perto do avançado, Lambert tem encontrado as fórmulas correctas para pôr a sua equipa a surpreender meio-mundo. Trabalhando sob a premissa de que não se consegue melhorar o comportamento se não houver mudança de pensamento, leva os seus jogadores a um nível que ultrapassa a sua capacidade física. Notou-se em 2009. Poucas semanas depois de ter sido humilhado pelo Colchester, o Norwich foi golear o Wycombe Wanderers. Para os adeptos apenas tinha acontecido uma coisa: mudança de treinador. Mas quem trabalhava diariamente no clube percebeu que para além do novo treinador veio uma nova crença, uma nova mentalidade. Martin O’Neill deu-lhe um conselho: “just win” (apenas ganha). Lambert enraizou esse ideal e trouxe-o até à Premier League. Este ano testemunhou um “reavivar” do Sunderland sob o comando do seu mentor. Sob a mesma ideia. Apenas ganhar. Da forma que fôr necessária.
… ao “control to win”.

Enquanto treinador da equipa de Reservas do Chelsea, Rodgers teve a oportunidade de aprender de perto os métodos de José Mourinho. Considerou que “foi como ir para a Universidade de Harvard”. Sedento de conhecimento, estudou o futebol espanhol. É fluente na língua. Adopta como modelo Pep Guardiola. O tiki-taka. Holanda é outra das suas referências.

 E nem sempre foi feliz. No Reading tentou mudar de forma drástica um futebol directo e tipicamente britânico, para um futebol apoiado, de passe curto e posse de bola. Desastre. Por se manter sempre fiel às suas ideias, foi afastado do cargo 6 meses depois de o ter assumido. O Swansea, que vinha duma mentalidade muito semelhante à sua sob os comandos de Roberto Martínez – a quem substituiu após a saída para o Wigan, seu actual clube – mostrou ser um clube mais à sua medida. O seu futebol bonito, dominador e eficaz ganhou inúmeros adeptos. Principalmente este ano, na Premier League. Rodgers exige que a sua equipa controle o jogo, seja responsável pelo seu destino. Britton e Allen no miolo, Dyer e Sinclair nos flancos e Graham na frente de ataque tornaram-se a espinha dorsal do sucesso da equipa gaulesa. Em Janeiro, Sigurdsson (que trabalhou com Rodgers no Reading) veio dar novas e melhores soluções para o enraizado futebol do Swansea. “Estou mais que surpreendido. Eles jogam o futebol da forma correcta, são uma equipa muito perigosa”. Quem o disse foi Thierry Henry.

“Ganhavamos por 2-0 ao Wolves, faltando seis minutos para o término da partida. Simplesmente parámos de jogar e acabamos a perder dois pontos (2-2)” – relata Rodgers. “No balneário disse aos jogadores que tínhamos de aprender o jogo dos seis minutos”. Trabalharam gestão de posse de bola, controle, evitar bolas longas. Gestão da pressão. “No jogo a seguir estamos a ganhar 2-0 ao Bolton, quando sofremos um golo a faltar 17 minutos”. A pressão aumenta. Os adeptos esperam o segundo capítulo da mesma história. “Desta vez, trocámos a bola. Não a demos ao adversário. Eventualmente marcámos o 3º. Bolton não podia marcar, pois não conseguiu tocar na bola.” Controlar o seu destino. É esse o ideal de Brendan Rodgers.

Swansea e Norwich demonstram a verdade. Não existe “a mentalidade certa”. Em formato absoluto. Existe sim, a melhor mentalidade para um determinado ambiente. O melhor aqui pode ser o pior ali. O segredo está em encontrar o casamento perfeito. Estas equipas estão no bom caminho para isso. Agora, o objectivo é claro: manter o estatuto ganho este ano. O sucesso no alcance deste objectivo traçado é ainda uma incógnita. O hype desaparecerá, os jogadores poderão sair – interesse não falta - bem como os seus líderes. Paul Lambert e Brendan Rodgers, cobiçados por meio-mundo. Porque eles fazem a diferença.

Pedro Peralta.

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