Arrisco dizer que, apesar das bocas que deverei ser alvo, neste momento um dos cancros do Sporting é a precipitação dos adeptos. Para um clube com estatuto de grande é normal que as expectativas sejam altas, ainda para mais com as eternas promessas de treinadores e dirigentes que vão entrando e saindo como quem vem de visita guiada prolongada. O Sporting está mal e apressar as coisas não ajuda, é um facto que tem tudo de real. Há vários factores/teorias que o explicam, desde a indiferença dos jogadores perante o símbolo que transportam dentro de campo à negligência de presidentes incapazes.
E se (continuarmos) a pensar por uma lógica coerente a tendência é piorar. Quanto maior é o desespero maior é a revolta, a angústia e a energia negativa que sai cá para fora. É preciso ter calma, o problema já vem de trás. Enquanto uns falam de Godinho Lopes recusam-se a falar dos jogadores que mal ficam com uma pinga de suor a cair-lhes pela face abaixo. Temos de ir por partes e tentar descobrir o que está mal, claro está.
- A equipa esforça-se pouco e passa indiferente ao jogo em muitos períodos. As causas são simples, porém complexas de explicar/solucionar. Se bem que um profissional que ganha milhares de euros por mês está sujeito a uma pressão elevada é preciso perceber que estão lá dentro pessoas a representar o clube e, como é óbvio, assobiar e mandar vir a toda a hora não ajuda. A intolerância tem os seus limites, é como tudo na vida.
- Diga-se de passagem que os dois recentes treinadores são fraquíssimos. Sá Pinto tinha de compreendo que um "vamos (censurado)" não é suficiente para pôr uma equipa a jogar à bola e, mais importante de tudo, exercer coerentes e eficazes rotinas coletivas que permitissem ganhar jogos. Sem fio de jogo, modelo e/ou ideologia definida era difícil dar uma para a caixa. Oceano não era solução, mau era se alguém achasse o contrário.
- Presidente/dirigentes com declarações/bocas que apenas enfureceram ainda mais os adeptos que, por sua vez, descarregam dentro do retângulo de jogo. Pressão acrescida e desnecessária para os jogadores.
Por um lado a vinda de Franky Vercauteren é bem pensada. De acordo com o Record (não que seja totalmente credível, mas isso até o freguês da esquina já sabe) o belga é daqueles ossos duros de roer. Foi descrito como duro e exigente, podendo ter uma influência maior no balneário. Não que Sá Pinto, por exemplo, não o fosse, mas o factor principal é a experiência do belga. Sá Pinto não a tinha, não a podendo conciliar com outros elementos que fazem um treinador. A teoria mais simples é começar dum ponto (que já bateu no fundo) em que ou vai ou racha. Simples mas arriscada. E, já se sabe, que pela mínima comichão vão rolar cabeças. Sejam pacientes a partir daqui, senão ninguém vai a lado nenhum, sportinguistas.
O Borussia começou do 0 e está onde está, mas nós estamos em Portugal onde as mentalidades são diferentes e incomportáveis. Não me passa pela cabeça um clube como o Sporting ter coragem para largar tudo e percorrer um novo caminho. Não consigo racionalizar isso na minha cabeça, embora seja uma solução viável a longo prazo. Mas mais uma vez há uma seta a apontar para o principal neste texto: intolerância.
Felizmente tive o privilégio de ir ver o Sporting B jogar, um molho de miúdos com formigas nos pés. As suas trocas de bola eram fenomenais para um Santa Clara esbarrado à parede. O futuro passa por eles, pelos jogadores que mostraram uma garra muito superior aos jogadores da equipa principal. Pena os clubes rejeitarem dar mais oportunidades a estes jogadores. Vercauteren já treinou com 6 jovens e, mais cedo ou mais tarde, estarão eles a jogar na equipa principal, digo eu. José Dominguéz montou uma equipa com uma naturalidade tática ao nível dos melhores. Nota-se uma cultura extremamente evoluída com trocas de bola à Barcelona, com a maior tranquilidade e serenidade possível. Escuso de me pôr com individualidades quando o coletivo é o que mais interessa nesta equipa.
Tenham paciência, apesar da situação estar francamente má. Este é o conselho que posso dar aos verdes neste preciso momento. Dizendo que provavelmente Vercauteren não fará toda a diferença, pode ser a luz ao fundo do túnel que ao passar dos tempos vá aumentando de intensidade. A culpa não é dum elemento só, é de todo o hiperónimo, cada um com a sua quota. E todas as partes tem que cooperar para bom funcionamento duma instituição que tem de ter dias melhores, para bem do futebol nacional.
Comentários
Enviar um comentário