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Da Rússia, com amor

     A expectativa e a ansiedade terminam. O estômago às voltas transforma-se em alegria ou desespero. A bola finalmente rola. Arranca hoje o FIFA World Cup 2018 na Rússia, com trinta e duas seleções a lutar pelos 6 quilogramas de ouro e o título de melhor do mundo. Com os habituais candidatos e as sempre entusiasmantes surpresas a Alemanha defende o título numa competição onde, como há muito já não acontecia, é extremamente complicado prever um vencedor. Entre 64 jogos e mais de um mês, a imprevisibilidade é maior do que nunca.

     Rússia e Arábia Saudita abrem as hostilidades num grupo também imprevisível, onde o impacto de Mohammed Salah pode ser um fator absolutamente determinante. A Crónica Futebolística segue agora com alguns dos pontos mais dignos de reflexão e análise, tendo em vista o Mundial 2018. Fique atento à página do facebook para mais artigos de natureza semelhante durante os próximos dias.



FATOR CASA

     Não é certamente surpresa se lhe disser que a Rússia acaba por ser uma desilusão em grandes competições. Apenas por uma ocasião superou a fase de grupos, em 2008, quando acabou por chegar às meias-finais do EURO onde foi eliminada pela campeã Espanha. Na verdade, apenas aí a formação de leste terminou uma grande competição com mais de uma vitória, o que acaba por não ser um ponto a favor para o selecionador Stanislav Cherchesov. Uma percentagem vitoriosa de 25% desde que o técnico de 54 anos foi apontado para o cargo em 2016 também não indica uma boa fortuna, mas a verdade é que o palco pode fazer toda a diferença.

É preciso tirar as dúvidas do caminho e afirmar, convictamente, que a Rússia tem um excelente plantel e muito talento no lote escolhido. O grande ponto de interrogação faz-se pela incógnita com que é, muitas vezes, o campeonato russo e pelo quão mais fechado é, comparando com outros campeonatos europeus do mesmo nível. As regras e limite de jogadores estrangeiros em cada plantel acaba por ser uma forte motivação para esticar os bolsos ao maiores talentos do país. Falamos de atletas que, noutras circunstâncias, podiam brilhar noutros campeonatos de renome e serem mais facilmente reconhecidos.

     Ainda com um plantel bastante experiente, alguns teóricos defendem que no papel este é o plantel mais fraco que os russos apresentam nos últimos anos, mas é difícil concordar com essa assumpção quando a mescla da 'velha guarda' e novos talentos está presente em todos os setores. O destaque claro vai para Aleksandr (um dos 4 jogadores com o mesmo nome próprio) Golovin, médio e motor do CSKA Moscovo que deixou excelentes indicações nos jogos frente ao Benfica para a Liga dos Campeões da época passada. Pode ser ele também a chave - tal como a criatividade ofensiva do eterno prodígio Alan Dzagoev - para despoletar o melhor de Fedor Smolov, prolífico goleador do Krasnodar que marcou 63 golos nas últimas 3 temporadas pelo clube.

     Seja como for, o talento russo pode não ser suficiente para superar o fantasma das grandes competições e a pressão de defender o território. Havendo, porém, uma geração e condições favoráveis a que os anfitriões deste Mundial avancem a fase de grupos, as circunstâncias estão do lado da Rússia.

POUCO IMPORTA, POUCO IMPORTA...

     O que pode, afinal, fazer Portugal na Rússia? Com novidades relevantes em comparação à equipa que venceu o EURO na França há 2 anos, Fernando Santos não abdica do seu núcleo duro, mas tem agora uma nova onda de talento ao seu dispor. Num grupo mais traiçoeiro do que parece, toda a atenção é pouca. E a situação teoricamente decadente da Espanha não é, de forma alguma, desculpa para não carregar no acelerador.

     Numa convocatória onde a ausência de Rúben Neves - e que deixa William Carvalho como o único médio defensivo de raiz - acaba por ser o maior ponto de interrogação, é de notar as estreias em grandes de competições de jogadores como Bernardo Silva que estava lesionado em 2016 ou de jogadores como Bruno Fernandes ou Gonçalo Guedes (entre outros) que tiveram fantásticas épocas pelos clubes. Ofensivamente era necessário também colmatar a ausência de Nani (que falha a sua primeira grande competição desde o Mundial 2010) que, apesar de já ter passado os seus melhores anos, continua a ser uma aposta regular e proveitosa para Fernando Santos.

     Já todos sabemos o que pode fazer Cristiano Ronaldo. Depois de um início de temporada atípico, os números do astro madeirense foram, mais uma vez, alienígenas. Nada menos do que 44 golos no mesmo número de partidas, levando o Real a mais uma Liga dos Campeões e índices de motivação no topo à partida para a Rússia. Com 33 anos podemos pensar realisticamente que este pode ser o último Mundial para Ronaldo, que certamente não ambiciona menos do que repetir a façanha da Espanha em 2008/2010 e reforçar o seu estatuto como o melhor português da história, vencendo o Mundial depois de vencer o EURO, há 2 anos, de forma dramática.

     Num grupo que se pode provar mais complicado do que se pode pensar e onde nenhuma vitória é garantida antes do pontapé de saída, vencer o grupo e potencialmente evitar um poderoso Uruguai nos 'oitavos' pode ser uma realidade para o sucesso. De qualquer forma, apesar do sucesso na França, Portugal não se inclui de forma automática no grupo dos favoritos e cabe aos comandados de Fernando Santos provar que a seleção tem estofo para competir com qualquer adversário.

HOLA, ME LLAMO JULEN

      Defende-se que, de todas as seleções no Mundial, a Espanha é a que melhor se conseguiria sustentar sem um treinador, tal é o enraizamento do seu estilo de jogo. E a verdade é que os vizinhos de Portugal já têm um estilo de jogo automático desde o aparecimento do 'tiki-taka' com Aragonés, ainda antes das conquistas do Mundial 2010 e do EURO, 2 anos mais tarde com del Bosque. A questão não é, porém, se a Espanha consegue alinhar em campo sem treinador, mas sim o drama que se construiu em torno da ida de Lopetegui para o Real Madrid (que podia ser facilmente anunciada depois do final da competição ou eliminação espanhola) e o consequentemente despedimento, ele que vai ser substituído no banco por Hierro, que vai ter pela frente um papel ingrato e mais complicado do que seria esperado. Resta perceber se a automatização do estilo de jogo espanhol permanecerá e as coisas vão correr dentro do previsto - como de resto se esperava sobre Lopetegui, que afinou de forma eficiente e pragmática a sua Espanha - ou se o desastre de 2014 está à espera de repetição.

     Depois das últimas duas grandes competições terem sido uma completa desilusão, onde a Espanha apenas fez um encontro fora da fase de grupos, é imperativo dar uma resposta à altura e apaziguar o ambiente de tensão que vai rodeando o futebol espanhol nestes dias. Julen Lopetegui acaba por ser uma perda de peso para La Roja, visto já ter impresso as suas ideias com este particular lote de jogadores. Cabe agora a Fernando Hierro jogar pelo seguro e manter as ideias e pormenores táticos do anterior técnico, fundindo-as com o tal sistema automático que levou a Espanha a um período de glória, ou optar por uma rota de maior ousadia e tentar impingir os seus métodos a curto-prazo, o que será praticamente impossível tendo em conta o timing.

     A goleada à Argentina (6-1) num confronto amigável foi a maior vitória de Lopetegui que protagoniza indiretamente um dos casos mais insólitos à porta de um Mundial. Resta saber como vão os jogadores lidar com a pressão, num lote em que o núcleo do Real Madrid e Barcelona continua mais ou menos intacto, e poderá ser essa a maior esperança dos campeões do Mundo na África do Sul, há 8 anos.

Fique atento nos próximos dias para as próximas partes da análise ao Mundial 2018, assim como cobertura diária dos jogos desta grande competição.

Luís Barreira,
Crónica Futebolística

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