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Aquela altura do ano...


  Por mais surpreendente que pareça em tempos de férias não tem sido fácil arranjar um tempinho para mandar aqui qualquer coisa. Seja como for, há aqui um tópico onde há muito que escrever: expectativas, decepções, vitórias indiferentes e, a verdadeira ironia, derrotas calamitosas. Depende muito do ponto de vista e todos os anos as opiniões divergem de pessoa para pessoa. Mas isso já entra no campo da normalidade por muitas razões. Confusões nos amigáveis, compras que deixam dúvidas ou o cenário completamente oposto. Faz-se muito regularmente uma pergunta de índice filosófico (talvez nem tanto):

  É preferível vencer jogando mal (e sendo altamente eficaz, algo que pode dar uma cambalhota num estalar de dedos dependendo de alguns fatores muito específicos) ou perder nos amigáveis, tendo já um núcleo e um sistema tático bem definido que pode dar os seus frutos ao começar da época?

  Imaginemo-nos num jogo do x ou y ou no Quem Quer Ser Milionário com a ajuda do conhecido 50/50. Em 4 respostas possíveis restam-nos 2. Qual seria a escolha e, mais importante que isso talvez, quais seriam os critérios desse mesmo apontar o dedo? Resume-se em curto ou médio/longo prazo. Quanto mais bem elaborado for o sistema ou a filosofia melhor. E obviamente que um treinador com um sistema bem definido terá que criar alternativas e não improvisá-las à última da hora. Tem que estar preparado para adversidades nomeadamente já dentro do jogo. E não falo tanto em alternativas como jogador a, b ou c, mas sim uma alternativa tática que encaixe nas peças restantes como um puzzle ou uma figura construída em Legos. É certo: chegou aquela altura do ano. Onde a verdadeira ironia está presente em (quase) todas as discussões em que envolvem os diferentes desfechos da pré-época. Onde vencer não significa nada, mas perder é uma calamidade e algo tem que ser solucionado. Isto falando quando são pessoas de clubes diferentes, porque quando se fala do clube em si observa-se o cenário oposto. Para mim a pré-época não passa dum período de adaptação para novos jogadores se o treinador de mantiver. E se esse último tiver tido sucesso, um tanto melhor. Sinónimo de menos alterações na formação tática mais regular da equipa. O cúmulo para um treinador, excluindo chegar a meio da época (o que raramente resolve as coisas), é chegar na pré-época, fazer uma revolução no plantel e ter que aliar um projeto tático apropriada nesse espaço de tempo. É pressionante, cansativo e - acredito que - complicado. Eis a história de Domingos Paciência no Sporting.

Tão criticado como elogiado (uns dando mérito ao seu trabalho no Braga, outros atribuindo esse mesmo a Jorge Jesus, antecessor de Paciência) Domingos atingiu dois momentos de adrenalina incomum num clube como o Sporting de Braga. Ora lutou pelo título do campeonato até ao último minuto em 2010 como viu o Porto erguer a Liga Europa em Dublin, datava-se 18 de Maio de 2011. Lutar pelo campeonato em Lima? Dito agora parecia impossível (assemelha-se a perguntar a um grupo de adolescentes como viviam sem internet e telemóveis à 15/20 anos). Mas há dois anos essa é que foi essa.

  Domingos chegou ao Sporting na época 2011/2012 com a missão de fazer esquecer a época transata onde o Sporting tinha terminado o campeonato a uns pouquíssimos (ironia, perceba-se) 36 pontos do invicto Porto de Villas-Boas. Diz-se que a melhor altura para um treinador chegar a um clube é no início dos treinos. Isso pode ser um facto, mas não por isso deixa de ser uma tarefa de trabalho árduo. Ainda para mais quando o onze inicial é praticamente todo renovado. Agora desempregado, o futuro ainda é uma incógnita para este antigo avançado que era idolatrado por Villas-Boas. Já foi associado ao Porto, ao Olympiakos...

  Quando chegou ao Porto tinha uma função mais leve que aquela que tem agora. Estava livre de críticas, expectativas e de tudo o mais. Era treinador adjunto e partilhou a alegria de vencer 4 títulos numa só época com o então cabeça de cartaz do Porto, o jovem Villas-Boas. Criticado na passada época pelas exibições deprimentes e falta de autoridade o seu lugar foi muitas vezes posto em causa. Terá isto sido uma questão de fasquia demasiado elevada? Porque o tetra-campeonato de Jesualdo não foi propriamente conseguido por exibições brilhantes. A sua evolução como treinador no decorrer da época fez com que houvessem vitórias de Vítor Pereira contra si próprio.

  Isto para dizer que a pré-época pode parecer uma altura de descanso, dando alguns exemplos mais recentes do nosso futebol, porém pode ser a altura mais desgastante do ano desportivo, já que durante a época há tudo definido. Nesta altura há que ultimar planos, contar com o encaixe dos reforços, rever matérias menos conseguidas ou outros aspetos desejados. Os três grandes portuguesas estão a planear a pré-época a diferentes ritmos: o Benfica já terminou o seu estágio na França, o Porto defronta o Santa Clara nos Açores dia 25 de Julho (onde deverei estar presente) e o Sporting está mais contido, ainda não fez qualquer jogo. Surpresas ainda não, haverão realmente mudanças assinaláveis nesta transição de época? 

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