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Num cinema perto de si


  A SIC e TVI têm cá fama, sobretudo entre as mulheres, devido às suas tão intrigantes novelas em horário nobre. Portugueses ou brasileiras, o enredo é (quase) sempre o mesmo. Arroz e mais arroz. Por mais que hajam pontos de viragens o mistério é sempre o mesmo, sofrendo alterações de uma forma ou doutra. E há sempre o alvo, aqueles a que todos apontam. E que tentam manipular. Ora, a situação de Hulk não é muito diferente do conjunto de episódios transmitidos diariamente em canais generalistas. Como a duração é mais curta, chamemos-lhe de filme. Mais curto e, mesmo assim, mais objetivo. Mas não com menos peripécias.

  Um dia diz-se que sim, outro diz-se que não. Cheiro a samba brasileira. É autenticamente uma dança. Imprevisível. E ao que tudo indica entre dois clubes com uma história bastante acesa. Como meios de ligação existem várias. Uns mais rentáveis do que outros. Ricardo Carvalho, Bosingwa, Paulo Ferreira e o que causou polémica na seleção nacional, Bosingwa. Mas mais marcante na história de ambos os clubes relembram-se as vendas de Mourinho e Villas-Boas aos Blues. Claro, fala-se agora do regresso desses episódios, através da possível aquisição de Hulk nos londrinos. Os dados estão em cima da mesa e, como diz Pinto da Costa, há um número de conta bancária. A cláusula de 100 milhões não é exagerada, mas sim uma forma de intimidar os predadores europeus com euros ou libras de esfregar os olhos. É um pouco óbvio que, por mais rápido e forte que possa ser, o incrível não sairá por essa quantia tão elevada. Diga-se: seria a transferência mais cara de sempre dum jogador de futebol. Improvável. Falam-se em várias quantias, mas nenhuma rondou uma proposta oficial. Para tentar contradizer as quentes expectativas da imprensa, Hulk recorre ao empresário. Ele apenas diz que ele sabe o que é melhor para ele. Errado. Já não seria a primeira vez em que um empresário seria o calcanhar de Aquiles dum jogador. Lembre-se da dança entre Guarín e o seu. Apesar disso tudo ficou sobre rodas, já que demonstrou a sua satisfação a jogar no Internazionale. Pouco fez nesta época que será fechada com o EURO.

Mas afinal, tecnicamente e taticamente, o que faz Hulk para atrair o Chelsea ou outro clube qualquer? Um pouco de tudo. Mas peca por ser pouco disponível. Isso viu-se, aliás. Marca e desaparece do jogo. Talvez porque na sua mente tem o sentimento de dever cumprido ou porque se torna uma (ainda) maior preocupação nas marcações individuais dos adversários. Mas isso ainda não se sabia tão bem aquando da sua venda ao Porto...vindo do Japão. Descobriu-se relativamente cedo que Hulk é uma força da natureza. Uma dor de cabeça. Um fora de série para aquilo que é o panorama de extremos do nosso campeonato, onde não predomina uma grande força física dentro do lote. Mas Hulk é excepção, claro. Apesar de não ter feito uma época de um nível de 2010/2011 cumpriu e bem, fazendo-se excepção aquela altura onde esteve num momento de forma menos bom. Mau até. Esteve menos disponível nesta época, inclusive. Recebia a bola e a magia não era a mesma, numa grande fatia das vezes. Mas num bom lance, remate ou passe fatal fazia a diferença. E isto é o que é tão bom em relação a este jogador. Às vezes nem dá tanta pena que desapareça no jogo, já se sabe que fez o que lhe era pedido.

  Tecnicamente é um jogador com dotes muito acima da média. Destaca-se essencialmente pelo remate ou pela força do mesmo. Isso viu-se no primeiro jogo do brasileiro no campeonato português. Datava-se: 24 de Agosto de 2008. Dragão. Hulk começou no banco, rendeu Cristian Rodriguéz e marcou. Marcou uma bomba. Melhor seria difícil. Causou uma boa impressão, nada melhor para um novato. Mostrou ao longo dos tempos no Porto que não era o típico 9 que alguns esperavam, mas sim um extremo. Um rápido, forte e ágil, apesar da invejável constituição física. Um fora de série, diziam. 

DOIS ANOS, DOIS JOGADORES DIFERENTES

  Dizem que é extremamente difícil um treinador mudar o jogador, seja para melhor ou pior. Falso. Hulk surgiu completamente transfigurado devido ao sistema diferente adotado por Vítor Pereira. Há mais do que uma explicação para tal, mas primeiro falo daquilo que era o jogador de Villas-Boas.

  Podendo não ter uma liberdade ofensiva e criativa de tamanho considerável Hulk era prestável nos serviços portistas. Era também um protagonista na filosofia de posse de bola tornada realidade por André Villas-Boas que mais tarde iria falhar no Chelsea. Dizia-se que Villas-Boas sabia motivar tão bem quanto treinar e que era autoritário, também. E disciplinava a equipa que parecia ter anos e anos de rotinas coletivas. Hulk era, muito resumidamente, mais disponível. Jogava para a equipa em detrimento de tentar lances bonitos e terminar uma jogada promissora. Nesta época verificaram-se muitos problemas no balneário do Porto, sendo o mais recente o de Álvaro Pereira (que também deve estar de saída). Hulk não mostrou nenhum desses comportamentos e não protagonizou um desses problemas, mas...pareceu mostrá-los em campo. Além de ter um período menos bom no campeonato desaparecia do jogo muito facilmente. Claro que tinha sempre lances de verificar, mas regra geral não era um jogador de encher o olho. Optava pelas jogadas individuais, compensando de certa forma o que não fez na época passada. Diz-se que o fez devido à falta de liderança e autoridade de Vítor Pereira, que de resto se verificou em algumas alturas do campeonato.

 Taticamente, pouco ou nada mudou. Hulk continuava o típico extremo a seu estilo. Rápido, forte e muito esforçado naquilo que fazia, correndo-lhe bem ou não. Analisando aquilo que o caracteriza melhor, o Chelsea seria o melhor destino para ele, seja a ponta de lança ou a extremo, visto que o futebol inglês é muitíssimo móvel. Os jogadores não param, estão constantemente em movimento. A velocidade também é um fator preponderante. Por isso digo que seria o campeonato ideal para ele, excluindo imediatamente o italiano (a que também tem sido referenciado para a Juve de Conte que renovou há pouco tempo). 

  Prestes a fechar um ciclo, Hulk vai ser lembrado pela sua força física, velocidade e faro de golo. Um fora de série que durante muitos anos vai ser lembrado neste campeonato.

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