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O brasileiro, a raposa e o sangue frio


  Falo agora dos desfavorecidos no grupo C do EURO 2012, focando-me na Croácia de Bilic. À semelhança do que acontece com Portugal tem um brasileiro, Eduardo, Ex-Arsenal. Hrvatska, conjunto de letras que designam a Croácia no seu país. A tradução para as outras línguas é, no mínimo, diferente. Mas não estou propriamente intrigado a escrever sobre as traduções de croata-português. Irei ficar sim a falar daquilo que a seleção que tem de tudo pode fazer na próxima grande competição de seleções. Um grand slam do futebol. Imaginemos um tenista mediano a enfrentar Nadal e Federer. Reações imediatas? Medo e nervosismo. E passados os momentos de calor iniciais? Tentativa de recuperação psicológica e início do trabalho. Exato, trabalho. Muito calculismo para uma estratégia produtiva que possa surpreender esses tenistas de classe mundial. 

  Mas passando ao futebol. Tudo é muito bonito na teoria, mas como tive oportunidade de dizer e explorar em mensagens anteriores, uma bola dentro duma baliza pode alterar tudo aquilo que é um sistema tático definido antes do jogo, um momento moral e uma estratégia para o momento do jogo. Isto só para dizer que a surpresa do conjunto de leste pode ser contraposta. E no futebol existe a lei do mais forte, regra geral. 

  E quando se pensa na Croácia pensa-se numa seleção subtil e em solidez em todos os setores. Desde as garantias de Pletikosa (que deverá ser o eleito de Bilic, dada a avançada idade de Runje) à criatividade de Eduardo e a objetividade de Mandzukic ou Jelavic (protagonistas nos seus clubes), tudo passando pelo motor Modric. Depois de uma boa campanha no apuramento que apenas pode ser sido colocada num plano subtil pela Grécia de Fernando Santos que volta ao Euro depois da surpresa desagradável em 2004 a Croácia teve má sorte, se é que por acaso há crenças de superstições naqueles lados. No seu grupo estão presentes os últimos dois vencedores de mundiais da FIFA, a seleção italiana e a espanhola. Azzurri de Prandelli e Espanha de Del Bosque. Pior só com Lippi no leme da Itália, esse génio. Um treinador calculista e ágil. Uma raposa. E sabem que lembra? Trapattoni. O último treinador estrangeiro a ser campeão pelo Benfica, o 31º título de campeão dos lisboetas. Treinador que impõe respeito, pelo nível em que se encontra e pela lucidez que mostra aos 73 anos. Um resistente da velha guarda. Doutra forma também não se qualificaria com a Irlanda para a competição, sendo esta apenas a segunda participação dos Boys in Green  numa fase final do europeu. Em 88 ficou-se pela fase de grupos. Difícil não ser assim em Junho. Dez anos depois a Irlanda volta a uma fase final duma competição de seleções. A última data de 2002 no Mundial disputado na Ásia. Mundial de surpresas esse, ainda me lembro dalguns detalhes aos meus 5 anos, ainda que mal. Irlanda essa que por pouco falhou o Mundial de 2010 graças a Henry. Foi feliz a repetir Maradona, mas o karma fez o seu trabalho. Prestação desastrosa de les bleus nessa mesma competição. 3 jogos, 1 ponto e 1 derrota face à anfitriã que também foi eliminada na fase de grupos. Bom slogan para os verdes:

'Nação injustiçada procura voltar às grandes competições.'

  Parece-me bem. Apesar disso não vão usufruir dos recursos das outras seleções do seu grupo. Mas é certo que vão à guerra, mas é o que dizem: quem vai à guerra dá e leva. Vai ser duro, mas isto é futebol e a lógica pode ser distorcida algumas vezes.

  De volta à Croácia. Entre outros pode-se dizer que Modric vai jogar para o mundo ver. Não é novidade o interesse de muitos clubes pelo jogador do Tottenham. Apartar o resto e focar alguns elementos chave. Basicamente os que jogam fora do país. Srna, Corluka, Modric, Rakitic, Kranjcar, o tal brasileiro Eduardo, Jelavic, Kalinic, Perisic e até mesmo os experientes Olic e Petric. Este último foi só mais uma na época desastrosa do Hamburgo. E existem jogadores que conhecem os cantos à casa. Durante o apuramento houveram 5 jogadores que atuam na Ucrânia: Vukojevic, Strinic, Srna, Eduardo e Kalinic. Uma vantagem para uma fase avançada para a competição porque na fase de grupos os 3 jogos da Croácia serão na Polónia. Mesmo para a mais sólida defesa a matreirice de leste vai ser para a Aspirina, isto é, muitas dores de cabeça. 

    Nisto há a obviedade de uma grande Croácia na teoria. Tenho aqui para assistir e analisar o Croácia - Turquia (jogo sem golos, depois de na primeira mão do play-off a Croácia ter ido ao ambiente infernal da Turquia vencer por 0-3) e depois é prometido dar feedback em notas saltas que cá colocarei. Pena no único jogo ainda disponível para visualização haja uma clara gestão da equipa croata.

Comentários

  1. Croácia é Modric, um dos melhores médios do mundo, a capacidade de organizar jogo dele é fenomenal, dá gosto vê-lo jogar. Infelizmente não vejo a Croácia a passar. Itália e Espanha, duas candidatas a ganhar a competição. Vejo a Croácia como Portugal, ambas selecções têm jogadores para irem longe, mas a grupo em que eles estão inseridos é muito difícil. Outra coisa é terem jogadores, mas não tem equipa, não tem espírito de grupo, tal com Portugal. Nisso a Espanha e a Itália são muito fortes. Pouco ou nada mexem no 11 que foi feito para o mundial, e isso ajuda muito. Acho que o problema da Croácia está no ataque, não tem um jogador que desequilibre, Olic já está velho e não acho o Eduardo por aí além. A grande arma da Croácia é o meio-campo, tem que aproveitar muito o meio-campo se quiserem chegar longe nesta competição. Kranjčar, Modrić e Rakitić têm de jogar muito bem, são eles as esperanças da Croácia para este EURO.

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  2. E dois laterais seguros, Srna e Pranjic. Provavelmente Corluka fará dupla com Lovren.

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