A ambição possuiu o pensamento racional de André Villas-Boas na
penúltima semana de Junho do passado ano de 2011, aquando da sua
transferência para o Chelsea ser consumada. Tratou-se apenas (expressão
irónica) da transferência mais cara de sempre de um treinador de
futebol, rondando o valor de 15 milhões de euros. Alguns falaram de um
salto na carreira, outros de um traidor à procura de libras. Não
colocando nenhuma das opções de parte, a verdade é que André saiu cedo
demais de Portugal, mais propriamente do FC Porto, onde protagonizou a
melhor época da história do clube para a atual geração de portistas. É
difícil julgar alguém numa situação em que nos dificilmente iremos
encontrar, mas os pensamentos foram de carga negativa para um treinador
que começou a marcar uma nova geração de treinadores no ano passado.
Dadas as circunstâncias era difícil prever a não continuidade de André
Villas-Boas no clube onde quebrou recordes, e como disse, protagonizou
uma das melhores épocas de sempre do clube da cidade invicta. O ímpeto
era imenso e uma campanha positiva na Liga dos Campeões era uma certeza
caso o momento do clube se mantivesse. A verdade é que, inclusive para
mim, a sua saída foi irracional e precipitada. Estando na sua tão famosa
dita 'cadeira de sonho', algo que não a sua permanência e talvez
renovação de contrato seria imprevisível. Mas não tão imprevisível como a
equipa que começou a treinar, porém sem sucesso. O Chelsea, de Roman
Abrahamovich. Esse mesmo, o bilionário que gasta meia centena de
milhares de libras num jantar. O que se podia esperar? Um Chelsea com o
maior orçamento da sua história, com Villas-Boas a treinar uma equipa
renovada com um balanceamento perfeito entre jogadores experientes e
(não) exemplares e noutro lado jogadores jovens com ambições a um nível
elevado, talvez.
As expectativas eram, apesar de algum receio em relação a um treinador
inexperiente no futebol inglês, exigentes. E tinham que ser, para um
clube que neste século tem sido alimentado com títulos e prestígio
internacional. Um dos responsáveis por essa enorme evolução do Chelsea
foi José Mourinho, atual treinador do Real Madrid e insistentemente
comparado com o ex-treinador do Chelsea, André Villas-Boas. Colocam-se
agora as analogias em duas figuras com as suas parecenças no mundo do
futebol. Ambos se lançaram internacional no Porto, onde ganharam troféus
de nível europeu (Liga Europa no caso de Villas-Boas, a extinta Taça
UEFA e a Liga dos Campeões no caso do denominado Special One).
Também se pode comparar o pós-Porto. Essa é talvez a semelhança que vem
mais ao de cima. Quer um quer outro rumaram ao Chelsea, tendo, ao que
parece, um gosto especial por azuis.
As adversidades começaram a surgir
o fosso foi-se alargando, deixando André Villas-Boas com uma minúscula
margem de manobra. Para além de que o orçamento para o treinador não foi
o suficiente (as compras de Romeu e Lukaku pareceram não ser as únicas
desejadas pelo português). Esperava-se, realmente, um maior investimento
pela parte do bilionário russo que manda nos blues de Londres. E a
única que contribuiu realmente para alguma coisa foi Oriol Romeu. Um
jogador bastante seguro no meio-campo, diga-se. Sendo jovem, a sua
margem de evolução está sob uma perspetiva relevante, podendo ser um dos
melhores da sua posição, médio defensivo ou trinco, como preferirem.
Sentido cada vez mais a pressão, a
corda acabou por ceder. Resultados negativos e a Liga dos Campeões em
sério risco, dado o crescendo de forma do Arsenal, foram as razões que
levaram ao despedimento do jovem treinador português, ao que se
especula. Mesmo tendo a opinião pessoal que não seria o português a ter
as culpas nesta situação (acredito que a má influência de jogadores como
Drogba e Lampard estivessem a marcar mais o rendimento da equipa), mas
sim alguns jogadores e os próprios adeptos que iam criando uma aversão
ao treinador. Triste desfecho para aquela que podia ser uma história de
sucesso para os londrinos, tendo eu uma perspetiva a razoavelmente
longo-prazo.
A pergunta que todos fazem para si
próprios é a mesma. O rumo de André Villas-Boas ainda é incerto, com
bastantes expectativas sobre ele. A comunicação social liga Villas-Boas
ao Barcelona (devido a uma especulada saída de Guardiola dos catalães), e
o Inter também pode ser uma possibilidade. Depois de uma época
brilhante no Porto, o sucesso e idolatração criados em torno do
portuense não serão esquecidas nem tão cedo. O próximo clube do assumido
portista espera o mesmo da sua prestação. Mas ainda existem aqueles que
sonham com o regresso à sua cadeira de sonho...
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