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Um cavalheiro do futebol italiano


  Estou de volta e para falar de Del Piero, englobando a Juventus e o que têm feito num passado mais recente. Depois de ter sido anunciada a sua saída do clube de Turim no final da temporada o jogador continuou a desempenhar jogos com uma qualidade de líder, marcando contra a Roma aquele que foi um dos melhores golos da sua carreira, seguramente. Este golo foi ainda mais emotivo por algumas razões, tendo Del Piero se superiorizado a Totti, capitão da Roma, mas principalmente por ter marcado o seu primeiro golo no novo estádio da Juventus.

  Apesar de não ser um titular absoluto, Alessandro tem sido quase sempre suplente utilizado com grande importância no ataque da equipa, mas também no aspecto anímico. Com quase 20 anos de plantel principal do clube já ganhou tudo o que havia para ganhar a nível europeu, a entrar no plantel depois da vitória da extinta Taça Uefa levantada por Baggio, em 1993. O seu talento continua bastante elevado, o golo que marcou na passada terça-feira não pode negar essa afirmação. Farei agora uma breve retrospetiva da carreira de um dos melhores avançados deste milénio e de sempre.

 Depois da conquista da extinta Taça Uefa em 1993 a Juventus contratou Del Piero ao Padova, clube onde foi formado, a par do extinto San Vandemiano. A sua adaptação foi fácil e o clube de Turim mostrou-se logicamente satisfeito pela sua contratação. 

  Por falar no San Vandemiano cá vai uma curiosidade acerca de Del Piero: com apenas 7 anos ingressou no clube. Curiosamente jogava a guarda-redes, tendo ele uma história semelhante à de Madini. No caso do defesa, jogou como guarda-redes algum tempo porque não tinha qualquer vaga para jogar na sua posição predilecta, quando entrou na formação do Milan. A mãe de Alessandro dizia-lhe para jogar a guarda-redes, para não ter que suar tento e para não ter que se lesionar mais vezes. Graças ao seu irmão Stefano Del Piero, começou a jogar como atacante. Isto porque convenceu a mãe com o argumento do seu irmão ser um bom avançado. E de facto Stefano estava certo. Com 13 anos foi visto por observadores do Padova, clube que o traria para os seus escalões jovens, em 1988.

 Saltamos no tempo e voltamos a 1993, ao ano de estreia de Alessandro como jogador da equipa principal da Juventus. Estreou-se em Setembro, contra o Foggia. No jogo seguinte fez um golo num jogo frente ao Reggiana e acabou por se afirmar definitivamente num curto espaço de tempo, onde fez um hat-trick no seu primeiro jogo como titular, partida essa que opôs a Juventus ao Parma. Na sua primeira temporada venceu o campeonato e conquistou a confiança dos Bianconeri. Não demoraria muito até se afirmar como uma referência do clube, um avançado de categoria europeia.

Iria atingir aquele que seria o auge do seu currículo de títulos em 1995 e 1996. Nesses dois anos venceu um total impressionante de 8 títulos, sendo eles:
 - Serie A (2);
 - Supertaça Italiana;
 - Taça de Itália;
 - UEFA Champions League;
 - Supertaça Europeia;
 - Taça Intercontinental.

  Ainda venceu o europeu de sub-21 pela seleção italiana, em 1996. 

  Mais do que um desportista Alessandro é um profissional, alguém que joga com um amor incondicional ao clube que representa. Foi e na verdade ainda é um verdadeiro cavalheiro nos relvados, a sua classe demonstra apenas isso. Na temporada mais triste da história do clube o avançado esteve presente para dar o seu contributo que na maior parte das vezes era decisivo. Falo da época 2006/2007, claro. Nessa época o processo judicial Calciocaos condenou a Juventus à Serie B, depois de escândalos na arbitragem italiana. Jogadores como Cannavaro, Thuram e Ibrahimovic demonstraram uma parte do seu verdadeiro carácter. Profissionais naquilo que fazem, porém a demonstrarem vergonha, provavelmente, por irem atuar num escalão inferior. 

  Jogadores fiéis como Gianluigi Buffon, Pavel Nedved e Alex Del Piero continuaram no clube e foram talvez os mais importantes na época que deu à Juventus a merecida subida à primeira divisão do futebol transalpino. Ficar no clube nessa temporada foi uma decisão fácil para ele, e passo a citar aquilo que disse antes do princípio da temporada.

“The Agnelli family deserve this, as do the fans and the new directors." 

  Foram declarações que ficaram engatadas na garganta de todos os adeptos da Juventus. Apesar de já ser idolatrado por todos os adeptos, as declarações e prova de amor que demonstrou ficam até hoje relembradas. Com toda a esperança depositada nos heróis de Turim, a equipa conseguiu a tão esperada promoção vencendo o campeonato, onde Nápoles e Génova completaram o pódio.

   No jogo de despedida de Gary Neville a Juventus jogou em Old Trafford. Del Piero foi substituído e aplaudido com uma enorme ovação em Inglaterra. Não interessa quando, onde e como, uma referência é sempre igual a si mesma. Quer seja na Juve ou na Squadra Azzurra é um jogador de topo. Já é referenciado como uma lenda no futebol.

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